O governo de São Paulo confirmou, no último fim de semana, a segunda morte causada por consumo de bebidas adulteradas com metanol. O caso reacendeu o alerta das autoridades sanitárias e levou à intensificação das operações de fiscalização em todo o estado.
De acordo com levantamento do Médicos Sem Fronteiras (MSF), cerca de 40 mil pessoas em todo o mundo já foram afetadas por intoxicação por metanol desde 1998, com 14,4 mil mortes estimadas.
Os países da Ásia concentram a maior parte dos surtos, especialmente Indonésia, Índia, Camboja, Vietnã e Filipinas. Em 2025, a Turquia aparece como o país mais afetado, com grandes surtos em Istambul e Ancara.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já registra 225 notificações relacionadas à intoxicação por metanol, sendo 16 casos confirmados e 209 em investigação. O estado de São Paulo concentra 85% das ocorrências, com 192 notificações, 14 confirmações e duas mortes.
O governador Tarcísio de Freitas anunciou ações conjuntas entre a Vigilância Sanitária, Secretaria da Fazenda, Polícia Civil e Secretaria de Saúde, com foco na repressão a estabelecimentos suspeitos e no bloqueio de produtos sem comprovação de origem.
“Nosso objetivo é impedir que bebidas adulteradas continuem circulando e coloquem vidas em risco”, afirmou Tarcísio durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
Até agora, 11 estabelecimentos foram interditados, seis distribuidoras e dois bares tiveram a inscrição estadual suspensa, e 19 pessoas foram presas em operações ligadas à falsificação e ao comércio irregular de bebidas alcoólicas.
Como age o metanol no organismo
O metanol é um álcool de uso industrial, presente em solventes e combustíveis, e altamente tóxico ao organismo humano.
Segundo a infectologista Jéssica Fernandes Ramos, do Hospital Sírio-Libanês, a substância é metabolizada no fígado pela mesma enzima que processa o etanol (presente em bebidas comuns), mas com efeitos devastadores:
“Enquanto o etanol gera substâncias menos nocivas, o metanol é transformado em formaldeído e ácido fórmico, compostos extremamente tóxicos que podem destruir o nervo óptico e causar falência múltipla dos órgãos.”
Os sintomas surgem entre duas e 48 horas após a ingestão, dependendo da quantidade consumida. Entre os sinais mais comuns estão visão turva, dor de cabeça intensa, náuseas, confusão mental e, em casos graves, coma e morte.
Brasil reforça tratamento e estrutura de análise
Para acelerar diagnósticos e garantir o tratamento adequado, a Secretaria Estadual de Saúde distribuiu 2.500 ampolas de álcool etílico absoluto a 20 hospitais, usadas para neutralizar parte dos efeitos do metanol no corpo.
Além disso, o Laboratório de Toxicologia e Análise Forense da USP de Ribeirão Preto foi designado como centro de referência para a realização de análises toxicológicas. A nova logística de envio de amostras busca reduzir o tempo de confirmação dos casos e aprimorar o monitoramento da contaminação.
Fiscalização e prevenção
Enquanto as investigações prosseguem, o governo paulista promete reforçar auditorias e operações conjuntas com o Procon e as vigilâncias sanitárias municipais.
Estabelecimentos que não comprovarem a origem das bebidas vendidas poderão perder o registro estadual e responder criminalmente.
Associações de bares e restaurantes também foram orientadas a descartar garrafas usadas de forma segura, para evitar que embalagens reaproveitadas sirvam de veículo para produtos adulterados.