Para orientar o consumidor diante da variedade de rótulos disponíveis nas prateleiras, o Paladar, do jornal Estadão, realizou um teste às cegas com oito marcas de sardinhas em lata. O painel contou com especialistas de peso: Alexandre Park, Marcelo Corrêa Bastos, Vitor Sobral e Thaís Martinho. Cada jurado recebeu as amostras sem identificação, registrou suas impressões individualmente, e as notas foram tabuladas para formar o ranking geral.
Ao longo da degustação, os avaliadores notaram diferenças significativas entre as marcas, destacando pontos como integridade das postas, equilíbrio do sal, ausência de escamas, textura, aroma e eventuais notas de amargor. Alguns rótulos agradaram pelo sabor, mas perderam pontos no visual; outros conquistaram no aroma, mas decepcionaram na textura.
No topo da lista, com clara superioridade, ficou a sardinha portuguesa Ramirez, elogiada pela combinação de textura agradável, aroma suave, sal na medida e sabor delicado.

Tradição portuguesa, estratégia no Brasil e planos de expansão
Fundada em 1853, a Ramirez é considerada a fábrica de conservas de peixe mais antiga do mundo ainda em operação. A empresa manteve controle familiar por quase dois séculos, o que, segundo o diretor de mercado externo, Manuel Moreira, foi essencial para atravessar guerras, crises e avanços tecnológicos. “Uma companhia em bolsa estaria sujeita a pressões de rentabilidade. Na mão da mesma família, a empresa tem uma paixão e um compromisso social com todos os funcionários e colaboradores”, afirma.
A ligação com o Brasil é histórica: a marca exporta para o país há 122 anos, participa da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria no Rio desde 1931 e mantém no Rio de Janeiro seu único escritório internacional. Hoje, o mercado brasileiro representa 5% a 6% das exportações da empresa.
O executivo atribui o apelo do produto ao fato de a sardinha portuguesa vir de águas frias e ricas em nutrientes, o que resulta em sabor mais intenso e peixe mais fresco. No entanto, o custo tributário segue como entrave para instalar uma fábrica no país. “O produto chega a encarecer quase 50% só em impostos”, diz Moreira.
Mesmo assim, a ideia de produção local segue em estudo — sobretudo se o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul avançar. “Com o acordo, tudo muda. Passa a haver espaço real para pensar o Brasil como base não apenas de consumo, mas de produção”, afirma.
Inovação, branding e futuro no mercado brasileiro
A empresa tem investido em estratégias para fortalecer sua presença no Brasil. Entre elas está o projeto “Lata das Cidades”, que, após versões dedicadas a Porto e Lisboa, ganhou edições inspiradas em Rio de Janeiro e São Paulo, tornando-se item de coleção entre consumidores.
Do ponto de vista tecnológico e ambiental, a Ramirez concentra sua produção em uma fábrica moderna em Matosinhos, equipada com sistemas automatizados, inteligência artificial, energia renovável, reaproveitamento de água e caldeiras movidas a biomassa. “É o que eu chamo de ‘born green’”, diz Moreira.
O desafio no mercado brasileiro, segundo o executivo, é equilibrar percepção de valor e escala, já que o consumo de pescado no país ainda é inferior à média mundial. Ele ressalta diferenças entre as conservas da marca — embaladas em alumínio, que não oxida — e as tradicionais enlatadas em aço estanhado.




