Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acenderam um sinal de alerta na comunidade científica global ao identificar um possível risco de colisão de asteroides com a Terra. A descoberta foi feita a partir de simulações de asteroides coorbitais e ocultos no brilho do Sol, localizados entre as órbitas de Vênus e da Terra — região que, até então, era pouco explorada devido à dificuldade de observação.
O estudo, liderado pelo professor Valério Carruba, foi intitulado “A ameaça invisível: avaliando o risco de colisão representado pelos asteroides coorbitais de Vênus não descobertos” e está em fase de revisão científica. As simulações indicam que alguns desses corpos rochosos podem, ao longo de milhares de anos, cruzar a órbita terrestre.
Segundo os critérios da NASA, um asteroide é considerado potencialmente perigoso quando tem pelo menos 140 metros de diâmetro e se aproxima a até 0,05 unidades astronômicas da Terra — cerca de 7,5 milhões de quilômetros. Mesmo rochas relativamente pequenas podem representar uma ameaça séria: um impacto de um asteroide com 150 metros teria energia milhares de vezes superior às bombas nucleares da Segunda Guerra Mundial.
O grande desafio na detecção está no brilho ofuscante do Sol, que torna esses asteroides praticamente invisíveis na maior parte do tempo. “São ameaças escondidas à luz do dia”, explicam os autores. Os objetos têm órbitas quase circulares, dificultando ainda mais sua diferenciação em relação aos planetas.
Missões e avanços para mapear asteroides
Diante das ameaças crescentes, a NASA e outras agências espaciais têm intensificado missões de mapeamento e defesa planetária. Um exemplo recente é a missão DART, que colidiu intencionalmente com o asteroide Dimorphos, em 2022, para testar a capacidade de desviar sua trajetória. Já a missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), tem fornecido dados cruciais para a identificação de asteroides binários — sistemas em que uma rocha orbita outra.
Esses sistemas, antes detectados apenas por observações diretas, agora podem ser identificados por métodos astrométricos, com base em pequenas oscilações gravitacionais. Um estudo inédito liderado pela doutoranda Luana Liberato, também da Unesp, utilizou essa técnica para identificar 352 novos candidatos a asteroides binários.
A descoberta de asteroides ocultos e de luas orbitando rochas espaciais não só amplia o conhecimento sobre o passado do Sistema Solar, mas também oferece ferramentas mais eficazes para proteger a Terra. Estima-se que 2 milhões de asteroides orbitam entre Marte e Júpiter — o chamado cinturão principal —, mas novas populações estão sendo reveladas em locais antes ignorados.