O contato visual é um dos pilares da comunicação não verbal, transmitindo emoções, intenções e até julgamentos sem a necessidade de palavras. Mas por que, em muitas situações, é tão comum desviar o olhar durante uma conversa? De acordo com pesquisas em psicologia e neurociência, o ato de evitar o olhar direto – chamado de gaze aversion – vai muito além de timidez e pode revelar aspectos cognitivos e culturais profundos.
Estudos mostram que manter contato visual constante pode sobrecarregar a memória de trabalho, parte do cérebro responsável por processar informações em tempo real. Quando precisamos recordar dados, resolver problemas ou formular uma resposta complexa, desviar o olhar ajuda a reduzir estímulos visuais e liberar recursos cognitivos. Pesquisas como as de Shogo Kajimura e Michio Nomura (Universidade de Kyoto) indicam que manter o olhar fixo pode prejudicar tarefas verbais e de imaginação visual, justamente por competir com os mesmos circuitos cerebrais.
Mais que timidez: múltiplos significados
Além da função cognitiva, desviar o olhar pode expressar:
- Insegurança ou ansiedade social, quando a pessoa evita o contato por desconforto;
- Respeito cultural, já que em algumas culturas encarar figuras de autoridade é visto como desrespeito;
- Evasão ou desinteresse, quando o ouvinte está emocionalmente distante;
- Autorregulação emocional, evitando confrontar temas sensíveis.
Em crianças, pesquisas de Gwyneth Doherty-Sneddon (Universidade de Stirling) mostram que o desvio do olhar aumenta conforme as perguntas se tornam mais difíceis, servindo como sinal visível de que o pensamento está em andamento.
O equilíbrio necessário
Embora o contato visual seja crucial para criar conexão e transmitir confiança, a capacidade de alternar entre encarar e desviar o olhar é igualmente importante para processar informações, refletir e manter a interação natural. Ou seja, olhar para o lado não é, necessariamente, desinteresse — pode ser o cérebro trabalhando para acompanhar a conversa.