A ciência acaba de identificar um novo tipo sanguíneo raro, chamado “Gwada negativo”, presente em apenas uma pessoa no mundo: uma mulher nascida na ilha de Guadalupe, no Caribe. A revelação foi feita pela Agência de Sangue da França (Établissement Français du Sang — EFS), durante uma conferência da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT), realizada em Milão, na Itália.
O grupo sanguíneo recém-descoberto agora faz parte oficialmente da classificação internacional, elevando o número total de sistemas sanguíneos humanos de 47 para 48.
Segundo o EFS, o nome provisório “Gwada negativo” faz referência à origem da paciente e foi bem recebido pela comunidade científica.
Em francês, “Gwada” é uma forma carinhosa de se referir a Guadalupe, enquanto “negativo” indica a ausência de um antígeno específico nas hemácias da paciente.
A nova mutação está relacionada ao gene PIGZ, o que levou à criação de um novo sistema de grupo sanguíneo com o mesmo nome. A descoberta não apenas acrescenta mais um tipo à lista de grupos conhecidos, mas também abre caminho para entender melhor diversas patologias.
Um anticorpo incomum e um mistério genético
A amostra que levou à descoberta foi colhida há cerca de 15 anos, durante exames pré-operatórios de rotina. Já em 2011, os pesquisadores haviam identificado um anticorpo desconhecido na paciente, mas, na época, faltavam recursos técnicos para aprofundar as investigações.
O caso começou a avançar apenas em 2019, com o uso de sequenciamento genético de altíssimo rendimento, tecnologia que revelou uma mutação herdada de ambos os pais da paciente. A condição só se manifesta quando os dois genes herdados são idênticos, o que não ocorreu com os irmãos dela, que não compartilham do mesmo tipo sanguíneo.
Implicações médicas e desafios futuros
Embora o achado seja motivo de comemoração científica, ele também traz um desafio crítico para o futuro da paciente.
Diferentemente de outros tipos raros, que ao menos contam com familiares compatíveis, a mulher de Guadalupe é o único caso conhecido no planeta. Isso torna essencial o desenvolvimento de um protocolo de busca ativa por doadores compatíveis, principalmente em Guadalupe e regiões com ascendência genética semelhante.
O EFS pretende criar registros internacionais de doadores raros e intensificar campanhas específicas para identificar pessoas que possam compartilhar o mesmo fenótipo sanguíneo.