A antiga recomendação de que adultos precisam dormir exatamente oito horas por noite acaba de ganhar um forte contraponto da ciência. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Europa afirmam que o número não é uma exigência biológica, mas sim um mito cultural que se consolidou ao longo do século 20, principalmente após a Revolução Industrial.
Estudos recentes indicam que a maior parte dos adultos saudáveis apresenta melhor funcionamento físico e cognitivo com cerca de sete horas de sono, com aumento dos riscos de saúde tanto abaixo quanto acima desse intervalo.
Para o psicólogo clínico Tony Cunningham, diretor do Centro de Sono e Cognição em Boston e professor assistente da Harvard Medical School, a discussão não deveria se resumir a um número fixo.
“Muita gente se preocupa apenas com quantas horas dorme, mas esquece da qualidade do sono, que pode ser ainda mais importante do que o tempo total”, afirmou o especialista em entrevista à CNN.
Ele explica que o sono é regulado por dois mecanismos principais:
• Pressão do sono – que aumenta quanto mais tempo ficamos acordados;
• Ritmo circadiano – o relógio biológico que organiza o ciclo dia/noite.
Para Cunningham, o ideal é que a pessoa vá para a cama quando a pressão do sono está alta. “É como comer: quanto mais tempo você passa sem se alimentar, mais fome sente”, comparou.
A regra das oito horas nunca foi “natural”, diz Harvard
O biólogo evolucionista Daniel E. Lieberman, de Harvard, vai além. Ele classifica a regra das oito horas como “nonsense da Era Industrial” e afirma que populações que vivem sem eletricidade geralmente dormem entre seis e sete horas por noite, sem cochilos ao longo do dia.
“Não há evidência de que humanos ‘naturais’ dormiam oito horas”, defende Lieberman, citando pesquisas mencionadas em seu livro Exercised: The Science of Physical Activity, Rest and Health.
Segundo o pesquisador, grandes estudos populacionais mostram uma curva em formato de U:
• riscos aumentam abaixo de sete horas,
• mas também crescem acima de oito ou nove horas,
• com o ponto de menor mortalidade situado em torno de sete horas diárias.
O que dizem as instituições de saúde
As novas conclusões não descartam as diretrizes atuais, mas ajudam a ajustá-las. A American Academy of Sleep Medicine recomenda “sete horas ou mais” para adultos — não oito. O Mayo Clinic faz a mesma orientação, destacando que necessidades variam com idade, estresse, gestação e qualidade do repouso.
A pesquisadora Rebecca Robbins, especialista em sono, lembra que mais de um terço dos americanos dorme menos que o recomendado. Para ela, o foco deve estar em regularidade, higiene do sono e rotina noturna, não em perseguir um número exato.




