Mesmo com os avanços da ciência, o fundo do mar ainda guarda mistérios que podem explicar alguns dos mais poderosos terremotos e tsunamis da Terra. Um grupo de 60 cientistas de diversos países acaba de concluir a Expedição 405 do Programa Internacional de Descoberta dos Oceanos (IODP), realizada entre setembro e dezembro de 2024 na costa do Japão.
A bordo do Chikyu, maior navio de perfuração científica do mundo, os pesquisadores perfuraram mais de 800 metros abaixo do leito marinho da Fossa do Japão, região onde ocorreu o terremoto de Tōhoku, em 2011 — um dos mais devastadores da história, com magnitude 9.1, mais de 18 mil mortos e prejuízos estimados em US$ 235 bilhões.
O objetivo da missão era investigar as condições geológicas que tornam possíveis terremotos e tsunamis de grande escala. Até o evento de Tōhoku, acreditava-se que a parte mais rasa da zona de subducção — onde a placa do Pacífico mergulha sob a placa de Okhotsk — se movia de forma lenta e silenciosa.
No entanto, em 2011, ocorreu um deslizamento de mais de 50 metros na falha, suficiente para deslocar enormes volumes de água e gerar o tsunami que devastou o nordeste japonês e provocou o acidente nuclear de Fukushima.
Durante a expedição, foram recuperadas amostras de rochas e sedimentos que revelam a presença de minerais como a esmectita, uma argila extremamente escorregadia que pode facilitar o deslizamento das placas tectônicas, mesmo em áreas rasas — aumentando o risco de tsunamis repentinos.
Risco global em zonas sísmicas
Os resultados reforçam a preocupação em torno do Círculo de Fogo do Pacífico, a faixa geológica que concentra 90% dos terremotos do mundo. Áreas como o arco de Kamchatka, na Rússia, e a própria costa japonesa permanecem em estado de alerta.
Em 1952, por exemplo, a península de Kamchatka foi palco de um tremor de magnitude 9.0 que provocou ondas de até 9 metros no Havaí. Para os especialistas, compreender os padrões geológicos dessas regiões é essencial para prever e mitigar os impactos de novos desastres.
Monitoramento permanente
Além da coleta de núcleos de sedimentos, os cientistas instalaram um observatório submarino na falha estudada, com sensores de pressão e temperatura. O equipamento deve monitorar continuamente os sinais que antecedem grandes rupturas, fornecendo pistas cruciais para sistemas de alerta precoce.
“Cada amostra retirada do fundo do mar é como uma cápsula do tempo geológica. Ao analisarmos as marcas de terremotos e tsunamis passados, podemos estimar a frequência e a intensidade de futuros eventos”, afirmou um dos coordenadores da missão.