Um estudo da Fundación Mapfre, realizado na Europa em parceria com o Hospital de la Santa Creu i Sant Pau, revelou que as pessoas, em média, deixam de dirigir aos 75 anos. O levantamento, divulgado pela Direção Geral de Trânsito (DGT), destaca que a decisão de parar ou continuar ao volante não deve ser baseada apenas na idade, mas na condição física, cognitiva e emocional do motorista.
No Brasil, com o aumento da expectativa de vida, cresce também o número de motoristas idosos. Segundo o IBGE, o país tem mais de 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, muitas delas ainda ativas, trabalhando e dirigindo. A direção, além de uma necessidade prática, representa autonomia e independência emocional — e a perda dessa atividade pode gerar sentimentos de frustração e exclusão social.
A partir dos 60 anos, o corpo passa por transformações naturais que exigem mais atenção na hora de dirigir. Entre as principais mudanças estão:
- Redução da visão e audição;
- Reflexos mais lentos e menor coordenação motora;
- Problemas osteomusculares, que dificultam movimentos bruscos;
- Uso de medicamentos que causam sonolência ou confusão;
- Maior fadiga e vulnerabilidade a doenças crônicas.
Essas alterações não tornam o idoso automaticamente inapto, mas pedem cuidados redobrados, especialmente em situações de estresse no trânsito, horários de pico ou viagens longas.
Renovação da CNH e avaliações obrigatórias
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que, a partir dos 70 anos, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) deve ser renovada a cada três anos — mediante exames médicos e psicológicos.
Durante as avaliações, são testadas a visão, audição, coordenação e atenção. Caso o profissional de saúde identifique limitações, o motorista pode receber restrições específicas, como:
- Dirigir apenas durante o dia;
- Uso obrigatório de lentes corretivas;
- Proibição de conduzir em vias de grande movimento.
Essas medidas buscam preservar a segurança do condutor e dos demais usuários das vias, sem comprometer sua liberdade de locomoção.
Os riscos e desafios nas ruas
A segurança do idoso no trânsito vai além do volante. De acordo com o Atlas da Violência, os pedestres idosos são as principais vítimas fatais de atropelamentos. Isso se deve à mobilidade reduzida, ao tempo de reação mais lento e à fragilidade física.
Entre os problemas enfrentados estão:
- Tempo insuficiente de semáforo para travessia;
- Calçadas irregulares ou com obstáculos;
- Falta de sinalização adequada;
- Desrespeito de motoristas às faixas de pedestre.
A ausência de infraestrutura adequada acaba limitando a autonomia dos idosos e aumentando o risco de acidentes.
A pesquisa mostra que 45% dos idosos que deixaram de dirigir o fizeram por sugestão de familiares, e 74% disseram ter parado contra a própria vontade. Para muitos, abandonar o volante significou perder um símbolo de independência.
Por isso, a recomendação dos especialistas é clara: não há idade certa para parar de dirigir, mas sim condições certas. Com acompanhamento médico, autoconsciência e ajustes na rotina, é possível continuar ao volante com segurança e responsabilidade — inclusive depois dos 80.