Para muitas crenças, a morte não é o fim, mas o começo de outra jornada. Cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e budistas mantêm, cada um à sua maneira, a esperança de uma continuidade após a vida. Ainda assim, essa expectativa de transcendência não é privilégio das grandes religiões: culturas ancestrais, como a dos vikings e egípcios, já realizavam rituais funerários para preparar os mortos para o além.
Mas, e do ponto de vista da ciência — o que realmente acontece quando morremos?
O corpo em colapso
Biologicamente, o corpo humano começa a sucumbir quando o sistema cardiovascular entra em colapso, caracterizando a chamada morte clínica. Coração e pulmões param, e os órgãos deixam de ser oxigenados. Se a reanimação for rápida, ainda há chances de reversão. Mas na morte cerebral, quando o cérebro e o tronco encefálico cessam suas atividades, não há retorno: a consciência se perde de forma definitiva.
Ainda assim, partes do corpo continuam em funcionamento por algum tempo. O cérebro é o primeiro a morrer, em cerca de três a cinco minutos sem oxigênio. Já o trato gastrointestinal resiste até dois ou três dias, e os processos de decomposição podem durar até 30 anos. Durante esse tempo, vírus e bactérias podem permanecer ativos, como os da hepatite e da tuberculose.
A surpreendente lucidez final
Contrariando a ideia de que a morte é um simples “apagar das luzes”, experimentos têm revelado que pode haver um aumento da atividade cerebral logo após a parada cardíaca. Em 2013, um estudo da Universidade de Michigan observou que camundongos moribundos apresentaram ondas cerebrais sincronizadas após a parada cardíaca — um padrão ligado à percepção consciente.
Esse fenômeno levantou uma possibilidade instigante: poderíamos experimentar um estado de consciência ampliada antes da inconsciência total?
Experiências de quase morte: alucinação ou portal?
Relatos de experiências de quase morte (EQM) são frequentes entre pacientes ressuscitados. Em muitos casos, essas pessoas descrevem sensações de libertação, paz, presença de luz intensa e até a impressão de observar seus corpos de fora. Algumas experiências são positivas; outras, angustiantes. Mas todas têm algo em comum: ocorrem na delicada fronteira entre a vida e a morte.
Pesquisadores do Imperial College London compararam EQMs com os efeitos da dimetiltriptamina (DMT), uma substância psicodélica encontrada na ayahuasca. Os resultados foram impressionantes: sensações de transcendência, unidade com o universo e ausência de dor foram relatadas em ambos os casos. A semelhança sugere que, mesmo nos últimos instantes, a mente humana pode projetar experiências complexas e subjetivas.
A alma em debate
O conceito de alma atravessa culturas e religiões, e ainda hoje desafia a ciência. Filósofos como Platão, Sócrates e Descartes já defendiam que corpo e alma são entidades distintas. No entanto, a neurociência moderna aponta que todos os processos mentais estão ligados ao funcionamento cerebral. A pergunta permanece: seria a consciência apenas uma manifestação bioquímica?
A ciência ainda não tem resposta definitiva. A única certeza é que, mesmo após séculos de pesquisa e fé, a morte continua sendo um dos maiores mistérios da existência — talvez o último que nos resta explorar.