Nos anos 80 e 90, era difícil encontrar uma cantina de escola ou armazém de bairro sem os saquinhos de balas Soft. Coloridas, redondas, com sabores variados e vendidas em embalagens plásticas transparentes de até 100 unidades, elas eram baratas, acessíveis e lucrativas para comerciantes. Mas a mesma característica que atraía consumidores também escondia um risco: a facilidade com que escorregavam pela garganta, provocando engasgos frequentes — principalmente em crianças.
A ameaça foi tamanha que as balas acabaram apelidadas de “bala da morte”, mesmo sem registros oficiais de óbitos provocados por seu consumo. Ainda assim, relatos de sufocamento se multiplicaram a ponto de pais exigirem que escolas e docerias próximas deixassem de vender o doce.
O perigo das balas Soft estava no formato: redondas, lisas e do tamanho aproximado de uma moeda de R$ 1. Essa combinação facilitava que fossem aspiradas diretamente para as vias aéreas, dificultando a expulsão.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o engasgo é uma das principais causas acidentais de morte em crianças menores de 1 ano no Brasil. Alimentos pequenos e de formato circular — como uvas, amendoins, pipoca e balas — estão entre os mais perigosos.
Os sintomas mais comuns incluem tosse persistente, falta de ar, chiado no peito e até movimentos desesperados da criança levando as mãos ao pescoço. A recomendação médica é nunca bater nas costas ou colocar os dedos na boca da criança, mas sim procurar atendimento de emergência imediatamente.
O fim da Soft — e um retorno repaginado
Criada pela fábrica Q-Refres-Ko na década de 1960, a Soft fez enorme sucesso nacional e chegou a ser exportada para os Estados Unidos, com mais de 100 milhões de unidades enviadas em 1987. Em 1993, após a compra da empresa pela multinacional Philip Morris, a bala foi retirada do mercado.
Anos depois, houve tentativas de relançar o produto em versões “seguras”, com um furo no centro — semelhante às balas Lifesavers — para reduzir o risco de asfixia. Hoje, uma indústria de Erechim (RS), a Berbau, fabrica a Soft Classic, vendida em sabores tradicionais e exportada, sem registros de engasgo desde 2000.
Um doce que virou lenda urbana
A Soft sobrevive na memória afetiva de gerações como um ícone das guloseimas de balcão, lado a lado com marcas como 7 Belo e Ploc. Mas também carrega a reputação de doce perigoso, cercado por teorias conspiratórias e histórias de supostos acidentes fatais que nunca chegaram a ser comprovados.