Por décadas, as baratas foram consideradas as campeãs da sobrevivência extrema. A crença popular ganhou força após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, quando relatos afirmavam que apenas baratas haviam restado entre os escombros. O mito parecia confirmado: em 2007, o programa Mythbusters, do Discovery Channel, expôs baratas a níveis letais de radiação — 1.000 rads de cobalto-60, suficientes para matar um ser humano em dez minutos. Um mês depois, metade dos insetos ainda estava viva.
Mesmo assim, os testes mostraram que o inseto não é invencível. Apesar de ser de seis a quinze vezes mais resistente à radiação do que os humanos, a barata ainda perde para um competidor surpreendente: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster).

Estudos com diferentes espécies de insetos mostraram que a mosca-da-fruta pode suportar até 64 mil rads de radiação, uma dose cerca de 60 vezes maior do que o necessário para matar uma pessoa. Essa resistência coloca o pequeno inseto à frente de praticamente todos os outros organismos multicelulares conhecidos.
A explicação está no ciclo de vida curto e na simplicidade biológica da espécie. Com poucos dias de vida e alta taxa de reprodução, as moscas-da-fruta conseguem repor rapidamente a população mesmo após eventos catastróficos. Além disso, seu DNA é extremamente eficiente em reparar danos, o que aumenta as chances de sobrevivência em ambientes hostis, inclusive após uma guerra nuclear.
Outras criaturas “indestrutíveis”
Embora a mosca-da-fruta lidere entre os insetos, há seres ainda mais resistentes no mundo microscópico. O campeão absoluto da radiação é o Habrobracon hebetor, uma vespa parasita capaz de resistir a 180 mil rads — 200 vezes mais do que um humano. Já os tardígrados, também conhecidos como “ursos d’água”, são famosos por sobreviverem até mesmo no vácuo do espaço e em temperaturas extremas.
Essas criaturas são exemplos de vida extrema, organismos que conseguem suportar condições letais para quase todos os outros seres vivos — da alta radiação à ausência total de oxigênio.
Um planeta vazio, mas ainda vivo
Apesar da capacidade de suportar radiação, cientistas lembram que sobreviver à explosão é apenas o primeiro desafio. Após uma guerra nuclear, a falta de alimentos, o colapso dos ecossistemas e as mudanças químicas na atmosfera tornariam a vida quase impossível — até mesmo para os seres mais resistentes.
“É difícil prever os efeitos de longo prazo da radiação sobre esses animais e como isso afetaria toda a cadeia alimentar”, explica Corrie Moreau, professora de biodiversidade e biossistemática de artrópodes da Universidade Cornell. “Esperamos nunca precisar ver esse experimento se tornar realidade.”