Ele domina a paisagem de Bucareste como um gigante de mármore branco. O Palácio do Parlamento da Romênia — também conhecido como Casa do Povo — é mais do que o edifício mais pesado do planeta, com 4,1 milhões de toneladas distribuídas em 12 andares, 1.100 salas e 20 mil vagas de estacionamento. É, acima de tudo, um monumento à megalomania do ditador Nicolae Ceaușescu, que o idealizou nos anos 1980 para ser o coração e o símbolo de seu regime.
A primeira pedra foi lançada em 1984, no auge do regime comunista. Para abrir espaço ao projeto, um sexto de Bucareste foi demolido — cerca de 40 mil pessoas foram removidas à força e o histórico bairro de Uranus, com suas casas e jardins, foi apagado do mapa. O próprio Ceaușescu supervisionava semanalmente as obras, alterando projetos a seu gosto, mesmo sem compreender os planos técnicos.
Mais de 100 mil trabalhadores participaram da construção, muitos deles soldados, obrigados a trabalhar em regime quase militar. O ritmo frenético era sustentado à custa de vidas humanas: dezenas morreram nas obras e outros tantos sucumbiram à exaustão ou aos deslocamentos forçados.
O peso do mármore e da ambição
De acordo com o Guinness World Records, o edifício consome números descomunais:
- 700 mil toneladas de aço e bronze
- 1 milhão de metros cúbicos de mármore da Transilvânia
- 3.500 toneladas de vidro
- 900 mil metros cúbicos de madeira
- 550 mil toneladas de cimento
- 2 milhões de toneladas de areia
No interior, há 480 lustres, 1.409 espelhos e luminárias e 200 mil metros quadrados de tapetes — tudo produzido na Romênia, numa tentativa de exibir autossuficiência nacional.
O palácio mede 270 metros de comprimento, 245 de largura e 86 de altura, além de 92 metros subterrâneos — o equivalente a um prédio de sete andares escondido sob a terra. No subsolo, Ceaușescu mandou construir um bunker nuclear e uma rede de 20 km de túneis secretos, que se estende até o aeroporto da cidade, para fuga em caso de guerra.
Luxo em tempos de escassez
Enquanto os salões do Palácio do Parlamento exibiam lustres de cristal e colunas de mármore, o povo romeno enfrentava racionamentos de energia e comida, apagões e toques de recolher. A ironia é que o edifício, chamado de Casa do Povo, foi concebido para concentrar o poder do Estado sob o controle absoluto do ditador.
Ceaușescu jamais viu sua obra concluída — foi executado em 1989, antes do término da construção, que só foi finalizada em 1997.
Hoje, o Palácio abriga o Parlamento da Romênia, o Museu Nacional de Arte Contemporânea e outros órgãos públicos. Apenas uma fração dos mais de mil cômodos é aberta a visitantes, por meio de visitas guiadas que revelam parte da grandiosidade e do peso histórico do edifício.
Projetado pela arquiteta Anca Petrescu, que dedicou 33 anos de sua vida à obra, o palácio é um símbolo ambíguo: orgulho arquitetônico e cicatriz política.
Seu gigantismo continua a provocar fascínio e desconforto. Para alguns, é o símbolo máximo da capacidade técnica romena. Para outros, o memorial de um tempo de opressão e vaidade.
