A partir de 2026, crianças no Japão só passarão a realizar provas formais após os 10 anos de idade. A medida, que reforça uma prática já consolidada no sistema educacional japonês, chama atenção internacional por inverter a lógica tradicional de avaliação escolar e colocar a formação de valores, disciplina e convivência social à frente da cobrança por desempenho acadêmico.
Nos primeiros anos do ensino fundamental, o sistema educacional japonês evita a aplicação de avaliações formais e notas classificatórias. Até os 10 anos de idade — etapa que corresponde, em geral, ao 4º ano — o foco das escolas está no desenvolvimento social, emocional e ético das crianças.
Nesse período, disciplinas tradicionais dividem espaço com atividades voltadas à convivência, higiene, cooperação, empatia e respeito. A filosofia é clara: antes de aprender matemática e gramática, o aluno precisa aprender a viver em sociedade.
Limpeza como parte da aprendizagem
Uma das práticas mais conhecidas da educação japonesa é a ausência de funcionários de limpeza nas escolas. Em vez disso, os próprios estudantes dedicam de 15 a 20 minutos diários à limpeza de salas de aula, corredores e até banheiros, em uma rotina chamada O-soji.

A atividade não é vista como punição, mas como parte essencial da formação. Segundo educadores japoneses, a prática fortalece o trabalho em equipe, o respeito pelos espaços coletivos e a noção de que responsabilidade não pode ser transferida a terceiros. Como resultado, escolas registram menos vandalismo, lixo e episódios de bullying.
Avaliações só após a formação de valores
As provas formais começam apenas a partir do 4º ano do ensino fundamental, quando os alunos já desenvolveram senso de disciplina, responsabilidade e colaboração. A avaliação passa, então, a medir não apenas conhecimento acadêmico, mas a capacidade do estudante de atuar de forma organizada e responsável.
A filosofia educacional japonesa sustenta que o aprendizado só é completo quando caminha junto com caráter e consciência coletiva, preparando o aluno para a vida em comunidade antes da competição por notas.
Respeito e disciplina vividos no dia a dia
No Japão, valores como respeito e educação não são ensinados apenas por meio de discursos. Eles fazem parte da rotina escolar. Cumprimentar professores com reverência, agradecer colegas após as aulas e manter silêncio e atenção em sala são práticas incorporadas desde cedo.
Especialistas apontam que a disciplina observada nas salas de aula japonesas não é fruto do medo, mas de hábitos culturais construídos na infância, o que reduz conflitos e interrupções no ambiente escolar.
Autonomia desde cedo
Outro aspecto que chama atenção é a autonomia das crianças. Desde pequenas, elas caminham até a escola sem a companhia dos pais, seguindo rotas seguras e identificadas. Grupos de alunos usam chapéus coloridos para facilitar a visibilidade no trânsito.

Essa prática, segundo educadores, desenvolve independência, autoconfiança, tomada de decisões e capacidade de resolver problemas, em contraste com modelos mais rígidos de supervisão adotados em outros países.
O sistema educacional japonês reforça a ideia de que educar vai além da transmissão de conteúdo. Ao priorizar valores como responsabilidade, respeito, autonomia e cooperação nos primeiros anos, o país forma adultos mais confiantes e conscientes do papel que desempenham na sociedade.




