O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 entrou em crise após a revelação de que o universitário Edcley de Souza Teixeira, estudante de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de cursinho, teria obtido questões quase idênticas às da prova por meio de um esquema de coleta de perguntas memorizadas — pagas por R$ 10 cada — aplicadas no Prêmio Capes Talento Universitário, avaliação que serve como pré-teste sigiloso para o banco de itens do Enem. As informações constam em documentos acessados pelo portal g1.
Mensagens trocadas com estudantes mostram que Edcley entrava em contato com participantes selecionados para o prêmio da Capes e pedia que eles memorizassem o máximo possível de questões. Em nenhum momento revelava que a prova funcionava como parte do pré-teste do Inep — informação que ele já conhecia, embora nunca tivesse sido divulgada oficialmente pelo Ministério da Educação (MEC).
Com esse material, Edcley realizou uma live de seis horas no YouTube, cinco dias antes da aplicação do segundo dia do Enem 2025, exibindo pelo menos cinco questões muito similares às que apareceriam na prova oficial. A transmissão fez o MEC anular três itens e acionar a Polícia Federal para investigar quebra de sigilo.
A repercussão foi imediata: estudantes e professores inundaram as redes sociais denunciando possível fraude, apontando risco à isonomia, à ética do exame e à credibilidade do sistema de avaliação pública. Usuários do X (antigo Twitter) afirmaram que qualquer antecipação indevida “destrói a confiança no Enem e distorce completamente a concorrência”.
Defesa: “engenharia reversa” e conteúdo autoral
Edcley nega ter tido acesso a itens sigilosos do Inep. Em suas redes sociais, argumentou que usou uma estratégia chamada “engenharia reversa”, técnica que parte da resolução de questões para reconstruir padrões de cobrança.
Ele afirma que elaborou suas questões “100% autorais” meses após ter participado da prova da Capes, sem saber se havia acertado os itens. Também diz ter criado um PDF chamado “aos futuros candidatos do prêmio Capes”, no qual reuniu questões que considerava parecidas com as cobradas pelo Enem, o Enseja e provas de medicina.
“A Capes convida universitários para fazer a prova, eu fiz e quis decorar. Essas questões são muito similares ao Enem ou ao Enseja. Elaborei minhas questões com base no que o Enem cobraria um dia”, declarou. Segundo ele, sua intenção foi “democratizar a educação”.
Os críticos, porém, alegam que, mesmo sem intenção explícita de fraude, a similaridade entre os itens e a origem do material levantam dúvidas sobre possível violação de sigilo e sobre o uso indevido de pré-testes — ponto sensível tanto para o Inep quanto para o MEC.



