Em 7 de dezembro de 1941, enquanto aviões japoneses atacavam Pearl Harbor, o marechal Wilhelm Keitel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Alemanha nazista, assinava em Berlim um decreto que entraria para a história como um dos mais temidos da Segunda Guerra Mundial. Batizado de “Noite e Neblina” (Nacht und Nebel), o documento autorizava o desaparecimento de qualquer pessoa considerada inimiga do Reich nos territórios ocupados.
Por ordem direta de Adolf Hitler, suspeitos de colaborar com a resistência eram capturados à noite, levados secretamente à Alemanha e julgados em tribunais especiais. O contato com familiares era proibido e, na prática, milhares simplesmente desapareceram sem deixar vestígios.
Segundo especialistas em direitos humanos, o decreto foi a semente do que hoje se conhece como desaparecimento forçado, classificado como crime de lesa-humanidade pelo Tribunal Penal Internacional. Estima-se que cerca de 7 mil pessoas foram detidas sob o decreto, das quais pelo menos 5 mil na França ocupada.
“Os detidos não eram executados de imediato, mas transportados secretamente, onde desapareciam sem deixar rastro”, explica o jurista venezuelano Jesús Ollarves Irazábal, autor de Desaparición Forzada de Personas: Estudio Histórico-Jurídico.
O efeito psicológico e político
Para Hitler, longas penas de prisão eram “sinais de fraqueza”. O objetivo do decreto era o medo: ao sumirem sem explicação, os prisioneiros se tornavam um aviso silencioso às comunidades ocupadas.
Inspirado inclusive em versos de Goethe, que falava em ações ocultas pela neblina e pela noite, o nome simbolizava o desaparecimento sem rastros.
Herança sombria
Décadas depois, a prática se espalharia em ditaduras da América Latina, incluindo Brasil, Argentina e Chile, durante os anos 1960 e 1970. Organizações como a Anistia Internacional e a ONU apontam que os desaparecimentos nesses regimes seguem o mesmo padrão inaugurado pelo decreto nazista.
Hitler expandiu o alcance do “Noite e Neblina” em 1944, ampliando-o a qualquer ato contra interesses alemães, mesmo fora do campo militar. A medida consolidou-se como ferramenta de repressão absoluta — e modelo para regimes autoritários no pós-guerra.