Os Estados Unidos estudam incluir o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), principais facções criminosas brasileiras, na lista de organizações terroristas internacionais. A avaliação foi destacada em relatório da consultoria Eurasia Group, que elenca potenciais medidas de Washington contra o Brasil após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A análise ressalta que o governo americano, liderado por Donald Trump, vem endurecendo sua política externa contra o narcotráfico e já classificou cartéis mexicanos e grupos venezuelanos como inimigos das Américas. Caso a medida avance, abriria caminho para sanções mais duras contra instituições financeiras e empresas acusadas de manter vínculos com o crime organizado no Brasil.
O debate surge em meio a uma escalada de atritos diplomáticos. Após criticar o julgamento de Bolsonaro, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras, com algumas exceções, e sancionou o ministro do STF Alexandre de Moraes com base na Lei Global Magnitsky.
No início da semana, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que “novas medidas contra o Brasil serão anunciadas em breve”. A porta-voz da Casa Branca chegou a declarar que Washington poderá usar “poder militar e econômico” para defender a liberdade de expressão no país, declaração repudiada oficialmente pelo Itamaraty.
Entre as medidas possíveis, a Eurasia aponta ainda a suspensão de vistos para membros do governo brasileiro e a aplicação da Lei Magnitsky a outros ministros da Suprema Corte.
Facções em foco
A recente operação da Polícia Federal, considerada a maior já realizada contra o crime organizado no país, reforçou a preocupação internacional. As investigações revelaram que PCC e CV movimentam bilhões de reais em fundos do mercado financeiro e têm presença relevante nos setores de combustíveis, transporte e agronegócio.
Segundo Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurasia, o desafio dos EUA será mapear o alcance dessas facções:
“Dado o tamanho e a sofisticação dos grupos, com entradas no setor privado, não é simples identificar quem está ajudando diretamente. Mas, se classificados como terroristas, o leque de sanções se ampliaria enormemente.”
Impactos regionais
Para especialistas, a eventual medida teria impacto político e econômico imediato, ampliando o isolamento brasileiro e pressionando bancos, exportadores e empresas nacionais a comprovarem que não mantêm vínculos com as facções.
Além disso, reforçaria a pauta da segurança pública como tema central nas eleições presidenciais tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina, onde pesquisas apontam o crime organizado como uma das maiores preocupações da população.
Com isso, o combate às facções brasileiras pode ganhar relevância não apenas na agenda bilateral entre Brasília e Washington, mas também no cenário geopolítico regional.