Estados Unidos e China estão prestes a dar um passo histórico na relação entre as duas maiores economias do planeta. Os países chegaram a um acordo de estrutura para o maior contrato comercial já negociado, que deve ser formalizado durante o encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping, previsto para esta quinta-feira (30) na cidade sul-coreana de Gyeongju.
O entendimento preliminar, anunciado no domingo (26) pelo secretário do Tesouro americano Scott Bessent, prevê avanços em pontos sensíveis como o comércio de terras-raras, as tarifas sobre produtos chineses, o futuro da operação americana do TikTok e a retomada das compras de soja pelos chineses — uma das principais demandas dos produtores rurais dos Estados Unidos.
De acordo com Bessent, o pacto inclui uma suspensão das tarifas de 100% sobre bens chineses que seriam aplicadas a partir de novembro e o adiamento por um ano das restrições impostas por Pequim à exportação de minerais estratégicos, como ímãs e terras-raras — insumos essenciais para a indústria de tecnologia e energia limpa.
“As tarifas estão, na prática, fora da mesa”, declarou o secretário à rede CBS.
“Temos uma estrutura muito bem-sucedida para os líderes discutirem na quinta-feira”, completou.
O secretário revelou ainda que o encontro na Coreia do Sul deve oficializar o “acordo final” sobre as operações do TikTok nos Estados Unidos, que passará a ter controle de algoritmo por empresas americanas e maioria de assentos no conselho ocupada por cidadãos dos EUA.
Segundo fontes diplomáticas, também houve avanço em negociações sobre o combate ao tráfico de fentanil, substância que preocupa Washington, e acordos paralelos de transporte marítimo para garantir o fluxo de insumos estratégicos.
Reflexos imediatos nos mercados globais
O simples anúncio da estrutura do acordo foi suficiente para impulsionar as bolsas da Ásia nesta segunda-feira (27). O índice Nikkei 225, de Tóquio, disparou 2,46%, atingindo 50.512,32 pontos — o maior nível da história. Já o Kospi, de Seul, subiu 2,57%, fechando o dia a 4.042,83 pontos.
Na China continental, o CSI 300 avançou 1,2%, e o Hang Seng, de Hong Kong, ganhou 1,05%. O movimento refletiu o alívio dos investidores diante da perspectiva de uma trégua definitiva na guerra comercial iniciada em 2018.
“O mundo está respirando aliviado. Um entendimento entre EUA e China reduz o risco de recessão global e estabiliza cadeias produtivas”, avaliou a economista sul-coreana Lee Hyemin, da Universidade de Seul.
Na Europa, o otimismo foi mais contido. O FTSE, em Londres, operava com leve alta de 0,07%, enquanto Paris e Frankfurt registravam quedas marginais, refletindo a cautela dos investidores europeus.
Contexto político e diplomático
A negociação ocorre em meio a um cenário de reaproximação diplomática após anos de confrontos comerciais. Desde que Trump retornou à Casa Branca, ele impôs e ameaçou novas tarifas sobre diversos países, defendendo que tais medidas fortaleceriam a indústria americana.
O ponto de maior atrito, no entanto, permaneceu sendo a China, responsável por cerca de 90% do processamento global de terras-raras, minerais vitais para a produção de celulares, painéis solares, semicondutores e veículos elétricos.
A recente decisão de Pequim de endurecer as regras de exportação dessas matérias-primas foi interpretada por Washington como uma tentativa de “segurar o mundo como refém”. Com o novo acordo, a China deve reavaliar essas restrições ao longo de 2026.




