As relações entre Brasil e Estados Unidos atravessam um de seus momentos mais turbulentos em décadas. Nesta segunda-feira (15), o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou em entrevista à Fox News que “o estado de direito está se rompendo no Brasil”, em referência à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Sem citar diretamente o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, Rubio acusou a Justiça brasileira de “ativismo” e criticou supostas tentativas de aplicar medidas contra cidadãos americanos que publicaram conteúdos críticos ao Brasil a partir dos EUA. “Há um juiz em particular que ultrapassou todos os limites”, declarou o diplomata, em visita oficial a Israel.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do julgamento. Em um artigo publicado no The New York Times, Lula classificou a decisão do STF como “histórica, que resguarda nossas instituições e o Estado democrático de direito”.
O líder brasileiro também respondeu às acusações do presidente Donald Trump, que chamou o processo de “caça às bruxas”. “Não foi uma caça às bruxas. O julgamento seguiu rigorosamente a Constituição de 1988, fruto da luta contra a ditadura militar”, escreveu Lula.
Escalada econômica: tarifas e sanções
O clima se agravou após o governo Trump impor tarifas de 50% sobre importações brasileiras, justificando a medida como resposta a “ações injustas contra empresas e cidadãos americanos”. Lula criticou duramente a decisão, classificando-a como “não apenas equivocada, mas ilógica”.
Segundo o presidente, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos de comércio bilateral, o que desmontaria o argumento de prejuízos econômicos. No editorial, Lula também acusou Washington de usar tarifas e o Magnitsky Act — legislação que permite sanções contra estrangeiros acusados de violações — para tentar proteger Bolsonaro e pressionar o Brasil.
Impactos diplomáticos e próximos passos
Analistas em Brasília avaliam que os EUA podem anunciar novas sanções diplomáticas e comerciais nas próximas semanas, ampliando o isolamento brasileiro no mercado internacional. O Itamaraty, por sua vez, aposta no diálogo e insiste que “a soberania e a democracia do Brasil não estão em negociação”.
Com Bolsonaro condenado e promessas de retaliação vindas de Washington, o futuro das relações bilaterais permanece incerto. O impasse coloca em jogo não apenas a política externa brasileira, mas também bilhões em comércio e a posição estratégica do país no cenário internacional.