No sudoeste da Finlândia, às margens do mar Báltico, existe um lugar que, em poucas décadas, será vedado para sempre aos seres humanos. Trata-se de Onkalo, um complexo subterrâneo construído para armazenar de forma definitiva o combustível nuclear usado do país. Uma vez selado, o local deverá permanecer intocado por até 100 mil anos — um prazo que extrapola qualquer referência histórica conhecida.
O nome Onkalo significa “pequena cavidade” em finlandês, mas a dimensão do projeto é monumental. O repositório, escavado entre 400 e 430 metros de profundidade no maciço rochoso de Olkiluoto, no município de Eurajoki, reúne quilômetros de túneis destinados a receber cápsulas de cobre contendo os resíduos mais perigosos já produzidos pela humanidade.
Na superfície, funcionará uma planta de encapsulamento que acondicionará o combustível usado em recipientes de cobre e ferro. Esses, por sua vez, serão depositados em câmaras seladas com argila bentonítica, formando múltiplas barreiras de segurança capazes de conter a radioatividade por eras inteiras.

Por que nunca poderá ser visitado
Quando estiver em operação plena, previsto para a próxima década, Onkalo será fechado de forma permanente. A proibição não é apenas por segurança: qualquer reabertura comprometeria o equilíbrio das barreiras projetadas para manter o material isolado do ambiente. Assim, o local será, literalmente, um espaço humano proibido para sempre.
A solução finlandesa contrasta com a realidade de outros países, que ainda mantêm estoques temporários de rejeitos em superfície. Com o Onkalo, a Finlândia se torna o primeiro país do mundo a implementar um depósito geológico profundo em escala comercial.
Um legado para o futuro
Especialistas destacam que a maior incerteza do projeto não é tecnológica, mas cultural: como garantir que civilizações futuras compreendam o risco e não tentem reabrir o local? A Posiva Oy, empresa responsável pelo repositório, estuda inclusive formas simbólicas de sinalizar o perigo para sociedades que ainda não existem.
Enquanto isso, o mundo observa. Onkalo não é apenas uma obra de engenharia: é uma cápsula de advertência e um marco histórico na gestão do resíduo mais duradouro da humanidade.