Um estudo atualizado conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desmistifica uma das crenças mais populares da nutrição contemporânea: a de que os brasileiros vivem com déficit de proteína e, por isso, precisam recorrer ao whey protein. Segundo os dados, menos de 3% da população brasileira tem ingestão abaixo do recomendado, mesmo entre os 20% mais pobres.
Publicado na Revista de Saúde Pública em 24 de junho, o levantamento analisou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que coletou informações de consumo alimentar de mais de 46 mil pessoas em todo o país. A conclusão: o brasileiro, em média, consome mais proteína do que o necessário, independentemente da faixa de renda.
De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), um adulto saudável deve consumir cerca de 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal por dia, o equivalente a 10% a 15% das calorias diárias. No Brasil, porém, a contribuição das proteínas chega a 18% do total calórico médio da população.
“Ao contrário do que se pensa, a deficiência proteica é muito rara no Brasil”, afirmam os pesquisadores. O país é um dos maiores consumidores e exportadores de carne do mundo e, mesmo entre os mais pobres, há acesso frequente a proteínas por meio de carnes, ovos, leite e leguminosas como o feijão.
Whey protein: marketing ou necessidade?
O estudo derruba o mito de que suplementação com whey protein seria essencial à saúde da população. Em números práticos, 180 gramas de peito de frango cozido já oferecem o necessário para o dia — o mesmo que 2,5 dosadores de whey. Ou seja, quem tem uma alimentação minimamente balanceada dificilmente precisa de proteína extra.
A pesquisadora responsável alerta que a indústria da suplementação promove uma visão reducionista da alimentação, centrada em nutrientes isolados e não no padrão alimentar completo. “O problema da dieta do brasileiro não é a falta de proteína, e sim a baixa ingestão de frutas, verduras e legumes”, diz.
Falta de diversidade, não de proteína
A pesquisa destaca que, mesmo com ingestão proteica suficiente, a dieta brasileira é pouco diversificada, sobretudo nas faixas de menor renda. Enquanto os mais ricos obtêm 6,4% das calorias diárias a partir de frutas, legumes e verduras, esse número cai para 3,4% entre os mais pobres.
A concentração da atenção apenas no consumo de proteínas pode esconder problemas reais, como o alto consumo de alimentos ultraprocessados e o baixo acesso a alimentos in natura. Esse padrão contribui para o aumento de doenças crônicas, obesidade e carências nutricionais específicas.