Um estudo publicado em junho na revista científica Nature Geoscience indica que um novo oceano está surgindo no Chifre da África, região que abrange países como Etiópia, Somália, Djibouti e Quênia. O fenômeno é resultado do afastamento gradual das placas tectônicas africana e somali, impulsionado pelo calor das profundezas da Terra.
De acordo com os cientistas, o processo está avançando mais rápido do que se acreditava e pode levar à separação definitiva da porção oriental do continente africano, formando um novo oceano e um enorme arquipélago em até um milhão de anos — ou até antes.
A pesquisa mostra que o fluxo de material quente do manto terrestre, responsável por empurrar as placas, ocorre de forma cíclica, em intervalos que lembram “batimentos de um coração geológico”. Essa pulsação é especialmente intensa na região de Afar, no nordeste da Etiópia, onde o fenômeno é mais visível.
Foi ali que, em 2005, o solo se abriu repentinamente, criando uma fissura de 60 quilômetros de extensão e até 10 metros de profundidade em poucas semanas. O evento, acompanhado por mais de 420 terremotos, surpreendeu os geólogos, pois representou séculos de atividade tectônica condensados em dias.

O continente que se divide
O Sistema de Rift da África Oriental, que se estende do Moçambique ao Mar Vermelho, é hoje o único lugar no mundo onde cientistas podem observar, em tempo real, um continente se partindo e um oceano nascendo. As placas estão se afastando cerca de 0,8 centímetro por ano, criando vales profundos e uma paisagem em constante transformação.
Com o avanço das rachaduras, o Chifre da África tende a se separar do restante do continente, tornando-se uma grande ilha cercada por um novo oceano que se estenderá do Mar Vermelho até a Tanzânia.
Impactos futuros
Embora o processo geológico leve milhões de anos, seus efeitos já começam a se manifestar na forma de terremotos e vulcões ativos. No futuro, o surgimento de novas zonas costeiras poderá mudar a economia da região, abrindo novas rotas comerciais e portos naturais.
Por outro lado, a transformação traz riscos: mudanças ecológicas, abalos sísmicos e alterações no relevo desafiarão governos e comunidades locais.
O Chifre da África, localizado em uma área estratégica próxima ao Mar Vermelho e ao Canal de Suez, é vital para o comércio marítimo global. Qualquer grande transformação tectônica na região pode ter repercussões geopolíticas e econômicas em escala mundial.




