Ao deixar a Terra em direção ao espaço, muitos astronautas são tomados por uma transformação profunda: a sensação de ver o mundo como ele realmente é. Chamado de efeito panorâmico (“overview effect”, em inglês), esse fenômeno psicológico provoca uma mudança radical na percepção da vida, da humanidade e do planeta. Para o ex-astronauta da NASA Ron Garan, essa experiência revelou uma dura verdade: a humanidade está vivendo uma grande mentira.
“Do espaço, eu vi uma biosfera iridescente repleta de vida. Eu não vi a economia”, afirmou Garan em entrevista ao Big Think. “Mas, como nossos sistemas humanos tratam tudo, inclusive os próprios sistemas de suporte à vida do planeta, como subsidiários da economia global, é óbvio, do espaço, que estamos vivendo uma ilusão.”
Entrevista completa com o ex-astrounata da NASA (Reprodução/Youtube/Big Think)
As fronteiras somem e o egoísmo aparece
Garan passou 178 dias no espaço e deu mais de 2.800 voltas ao redor da Terra. Durante essas órbitas, ele pôde observar o planeta sob uma nova perspectiva. Para ele, problemas como mudanças climáticas, desmatamento e perda de biodiversidade não são questões isoladas, mas sintomas de uma mesma raiz: a ilusão de que somos separados do planeta e uns dos outros.
Essa constatação já havia sido vivida por outros astronautas, como o lendário Yuri Gagarin, e mais recentemente, pelo ator William Shatner, que escreveu:
“Foi uma das sensações mais profundas de tristeza que já experimentei. O contraste entre o frio impiedoso do espaço e o calor acolhedor da Terra me preencheu com uma tristeza esmagadora.”
O erro da humanidade: priorizar o dinheiro, não o planeta
Segundo Garan, a grande mentira que vivemos é a centralidade da economia em nossas decisões — como se tudo estivesse a seu serviço. O astronauta propõe uma mudança radical na nossa ordem de prioridades:
“Precisamos parar de pensar em economia, sociedade e planeta, nessa ordem. Precisamos começar a pensar em planeta, sociedade e, só depois, economia.”
O alerta é claro: enquanto tratarmos a Terra como uma ferramenta para impulsionar crescimento econômico, continuaremos degradando os sistemas que sustentam a própria vida.
Apesar da gravidade da mensagem, Garan mantém a esperança de que a humanidade pode evoluir. Ele acredita que podemos alcançar um novo nível de consciência coletiva, em que abandonamos o pensamento de “nós contra eles” e abraçamos uma realidade mais ampla, interconectada e colaborativa.
Jornalista em formação pela Universidade de Taubaté (UNITAU), colunista de conteúdo social e opinativo. Apaixonado por cinema, música, literatura e cultura regional.