A Justiça da Argentina determinou o confisco de 20 imóveis pertencentes à ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, como parte das sanções relacionadas às investigações do escândalo dos “Cadernos”, considerado o maior caso de corrupção já revelado no país.
Kirchner — que governou entre 2007 e 2015 e foi vice-presidente até 2023 — cumpre atualmente prisão domiciliar após condenação anterior por corrupção em obras públicas.
O processo ficou conhecido como “Cadernos da Corrupção” por um motivo improvável: os registros detalhados feitos pelo motorista Óscar Centeno, que trabalhou para Roberto Baratta, ex-funcionário do Ministério do Planejamento.
Durante anos, Centeno anotou rotas, horários, valores, locais de entrega e até o peso das malas de dinheiro que, segundo a investigação, abasteciam um sistema de propinas ligado ao casal Kirchner.
Centeno afirmou ter queimado os cadernos, mas seis deles foram entregues à Justiça por um ex-policial, amigo do motorista, que repassou o material a um repórter do La Nación. A partir daí, o caso explodiu.

Delatores — chamados no país de “arrependidos” — reforçaram o relato ao afirmar que o apartamento dos Kirchner em Recoleta era um dos principais destinos das malas com dinheiro. O empresário Claudio Uberti declarou ter visto “cerca de vinte malas cheias” em uma das visitas ao imóvel.
Outro endereço, a casa da família na província de Santa Cruz, teria sido equipada com cofres de grandes dimensões para armazenar os valores. Em um único episódio, segundo Centeno, foram entregues US$ 500 mil.
O caso reúne 86 ex-funcionários e empresários, incluindo ex-ministros, secretários e executivos de grandes empreiteiras. Mais de 600 testemunhas devem ser ouvidas, em um processo que pode se estender por até três anos, segundo estimativas da Justiça argentina.
20 propriedades confiscadas e novo julgamento em curso
Em novembro, o tribunal responsável ordenou o confisco de imóveis de Cristina Kirchner e familiares, como parte do processo que trata de:
- enriquecimento ilícito,
- fraude em obras públicas,
- recebimento de subornos,
- formação de organização criminosa.
O confisco ocorre paralelamente ao julgamento iniciado neste mês, no qual Kirchner pode receber pena adicional de 5 a 10 anos. A ex-presidente nega as acusações e afirma ser vítima de perseguição judicial.




