A Bolívia vive um momento de virada política após duas décadas de governos de esquerda. O país definiu no último domingo (17) que a disputa presidencial será decidida entre o senador Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão, e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da aliança Livre. O segundo turno está marcado para 19 de outubro.
Rodrigo Paz, economista de 57 anos e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), foi a grande surpresa da eleição. Pouco antes do pleito, aparecia em terceiro ou até quinto lugar nas pesquisas, mas terminou em primeiro, com 32% dos votos. Seu desempenho deixou de fora da disputa o empresário Samuel Doria Medina, favorito até a véspera, que alcançou apenas 20% e declarou apoio imediato a Paz.
Nascido em Santiago de Compostela, durante o exílio de sua família na ditadura boliviana, Paz construiu sua trajetória política em Tarija, no sul do país, onde foi deputado, prefeito e atualmente é senador. Fez campanha austera e procurou se apresentar como o “rosto da mudança”, distante das disputas entre líderes tradicionais. Ao lado do vice Edman Lara, policial conhecido por denunciar casos de corrupção, promete ampliar o crédito para as classes médias e baixas, reduzir impostos e incentivar a indústria nacional.

O retorno de um ex-presidente
Do outro lado, Jorge Quiroga, 65 anos, tenta voltar ao cargo máximo do país. Ex-engenheiro da IBM formado nos Estados Unidos, foi vice de Hugo Banzer, ex-ditador que chegou ao poder pela via democrática. Assumiu a presidência em 2001, após a renúncia de Banzer, e governou até 2002.
Conhecido como “Tuto”, Quiroga defende uma agenda liberal e conservadora: privatização de estatais deficitárias, cortes no déficit fiscal, abertura comercial com Ásia e Europa e uma nova Constituição. Ele terminou o primeiro turno com 27% dos votos e terá que ampliar sua base no centro político para enfrentar o crescimento de Paz.

O fim do MAS
A eleição também marcou o enfraquecimento histórico do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales. Impedido de concorrer e enfraquecido por disputas internas com o atual presidente Luis Arce, Morales incentivou o voto nulo, que alcançou 19% do eleitorado. O MAS, que já dominou a política boliviana, elegeu apenas um deputado e ficou sem representação no Senado.
O resultado redesenha o cenário político do país andino: a nova presidência será decidida entre duas candidaturas de direita, enquanto a esquerda assiste de fora ao fim de um ciclo de 20 anos de protagonismo.




