A Justiça da Argentina determinou o confisco de 20 propriedades que pertencem à ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e família, como parte das sanções ligadas às acusações de fraude em obras públicas e ao chamado escândalo dos “Cadernos” — considerado o maior caso de corrupção da história do país.
Kirchner, que governou entre 2007 e 2015 e também foi vice-presidente, cumpre atualmente prisão domiciliar após uma condenação anterior de seis anos de prisão por corrupção. Agora, enfrenta um novo julgamento sob a acusação de chefiar um sistema ilícito de arrecadação de propinas envolvendo ex-ministros, secretários e mais de 60 empresários.
O caso ganhou notoriedade em 2018, quando vieram à tona os cadernos escritos durante mais de uma década pelo motorista Oscar Centeno. Ele registrou:
- rotas e entregas de malas de dinheiro,
- nomes de empresários e autoridades,
- locais de encontros,
- e até o peso das bolsas com dólares.
Esses relatos impulsionaram uma investigação que revelou um suposto sistema de subornos em troca de contratos públicos, especialmente nas áreas de transporte ferroviário, rodovias e grandes obras de infraestrutura.
Alguns dos empresários citados admitiram pagamento de propinas; outros disseram que os valores eram “contribuições forçadas” para campanhas políticas do kirchnerismo.

Condenação e confisco
O tribunal responsável pelo caso ordenou o sequestro de 20 imóveis ligados à ex-presidente, medida que integra o processo por:
- enriquecimento ilícito,
- fraude em obras públicas,
- formação de organização criminosa,
- e recebimento de subornos.
O confisco ocorre em paralelo ao novo julgamento iniciado este mês, em que Kirchner pode enfrentar pena adicional de 5 a 10 anos. Ela nega as acusações e afirma ser alvo de perseguição política.
Um megaprocesso com quase 90 réus
O julgamento envolve 86 ex-funcionários e empresários, além de ministros e executivos de grandes grupos de construção e energia. Pelo menos 600 testemunhas devem ser ouvidas em um processo que pode durar até três anos.
Especialistas destacam a relevância do caso para expor a ligação entre setor público e grandes conglomerados privados na cartelização e manipulação de contratos públicos, um fenômeno descrito como “financiamento ilícito institucionalizado da política” na Argentina.




