Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, pode esconder em seu interior algo que lembra um mundo próprio. Pesquisas recentes indicam que, sob as espessas camadas de hidrogênio e hélio, existe um núcleo rochoso gigantesco, com até 25 vezes a massa da Terra, comprimido por bilhões de anos pela gravidade extrema do planeta.
Embora não seja um “planeta” no sentido clássico, os cientistas descrevem essa estrutura como um corpo sólido ou semissólido de dimensões tão grandes que desafia comparações convencionais — e que, na prática, permanece inalcançável pela tecnologia humana atual.
Modelos mais recentes sugerem que o interior de Júpiter é formado por camadas concêntricas complexas. No centro estaria um núcleo composto por rochas e gelo altamente comprimidos, cercado por regiões de hidrogênio metálico e, mais externamente, por gases em estado convencional.
Simulações computacionais de alta precisão, realizadas no supercomputador DiRAC COSMA, da Universidade de Durham, mostraram que esse núcleo não é difuso nem misturado de forma homogênea com as camadas externas, como algumas teorias defendiam anteriormente.

Impactos violentos não explicam a estrutura atual
O estudo testou cenários extremos, incluindo colisões gigantescas durante a formação de Júpiter. Mesmo nesses casos, os resultados não indicaram a formação de um núcleo “diluído”.
“É fascinante explorar como um planeta gigante como Júpiter reagiria a um dos eventos mais violentos que um planeta em crescimento pode sofrer”, afirmou Thomas Sandnes, pesquisador da Universidade de Durham e autor principal do estudo.
“Vemos nas simulações que esse tipo de impacto literalmente sacode o planeta até o núcleo — mas não da forma necessária para explicar o interior de Júpiter que observamos hoje”, completou.
Segundo os cientistas, o material denso deslocado por um impacto tende a se reorganizar rapidamente, reassentando-se no centro e mantendo uma separação clara entre o núcleo rochoso e as camadas gasosas.
Saturno reforça o mistério
Júpiter não está sozinho nesse enigma. Evidências recentes indicam que Saturno também possui um núcleo diluído ou estruturalmente complexo, o que sugere que esses interiores não são resultado de eventos raros e catastróficos, mas de processos graduais ao longo da formação dos planetas gigantes.
“O fato de Saturno também apresentar um núcleo diluído reforça a ideia de que essas estruturas não surgem de impactos extremamente raros, mas se formam lentamente durante a longa evolução planetária”, explicou Luis Teodoro, da Universidade de Oslo.
Apesar dos avanços na observação espacial, alcançar fisicamente esse “mundo interno” de Júpiter está muito além das capacidades atuais. A pressão e a temperatura aumentam drasticamente à medida que se avança em direção ao centro do planeta, tornando qualquer tentativa de exploração direta inviável.




