Moradores da zona rural de Puerto Tirol, na província de Chaco, norte da Argentina, foram surpreendidos na última quinta-feira (25) por um objeto misterioso que caiu do céu e aterrissou em uma fazenda. O artefato, um cilindro de 1,7 metro de comprimento, coberto por fibras pretas semelhantes a cabelo, deixou os locais assustados e mobilizou a polícia, bombeiros e até uma equipe antibombas.
O fazendeiro Ramón Ricardo González encontrou o objeto parcialmente enterrado em seu terreno e acionou as autoridades. O local foi rapidamente isolado e um perímetro de segurança de 30 metros foi estabelecido enquanto especialistas avaliavam a situação.
De acordo com o chefe da polícia de Chaco, Fernando Romero, o cilindro era feito de fibra de carbono e continha traços de hidrazina, uma substância altamente tóxica usada como combustível de foguete. O item, segundo ele, apresentava marcas de queimadura e um número de série gravado, indícios de que teria passado pela reentrada atmosférica antes de atingir o solo.

O Centro de Pesquisa Aeroespacial da Argentina (CIAE) confirmou que o fragmento é, muito provavelmente, um tanque pressurizado leve, conhecido como Composite Overwrapped Pressure Vessel (COPV) — tecnologia comum em missões espaciais da NASA, SpaceX e outras agências.
“Esses tanques armazenam gases de alta pressão usados na propulsão de foguetes. Quando se desprendem em órbita, podem reentrar na atmosfera e cair em qualquer parte do planeta”, explicou o diretor do CIAE, Rubén Lianza.
Ligação com lançamento chinês
Embora ainda não haja confirmação oficial, especialistas apontam que o campo onde o objeto caiu fica abaixo da rota de voo do foguete chinês Jielong-3, lançado no dia anterior a partir de uma plataforma marítima.
Isso reforça a hipótese de que o artefato seja sucata espacial — destroços que se desprendem de satélites, foguetes e cápsulas durante missões e acabam reentrando na atmosfera.
“Esse tipo de evento será cada vez mais comum com o aumento das operações espaciais comerciais”, afirmou um pesquisador da Força Aérea Argentina.
Remoção sob protocolo máximo de segurança
A operação de remoção foi feita sob protocolos rigorosos de segurança, já que a hidrazina é corrosiva e potencialmente cancerígena. Técnicos com roupas e máscaras de proteção envolveram o cilindro em uma camada de nylon antes de transportá-lo para uma base da Força Aérea.
Todos os agentes que tiveram contato direto com o artefato foram submetidos a exames médicos, e nenhum apresentou sinais de contaminação. O material será enviado a Buenos Aires, onde passará por uma análise detalhada para determinar sua origem exata e possíveis riscos ambientais.
A região e o passado cósmico
Curiosamente, o episódio aconteceu na mesma província onde ocorreu o fenômeno Campo del Cielo, há cerca de 4 mil anos, quando uma chuva de meteoritos metálicos caiu sobre a Terra. Em 2016, foi descoberto no local um bloco de ferro de mais de 30 toneladas, um dos maiores meteoritos já registrados.
A coincidência reacendeu entre os moradores o fascínio — e o medo — por objetos vindos do espaço.
“Pensei que fosse uma nave. O chão tremeu quando caiu”, contou o fazendeiro González, ainda assustado.
Um alerta global
Com o aumento das missões espaciais e o envio de milhares de satélites para a órbita terrestre, a queda de fragmentos espaciais está se tornando mais frequente. Em janeiro, uma estrutura metálica caiu no Quênia, e, em 2023, partes de um foguete da SpaceX foram encontradas em fazendas australianas.
A Agência Espacial Europeia estima que existam mais de 36 mil pedaços de sucata espacial maiores que 10 cm orbitando o planeta — todos potenciais riscos tanto para satélites quanto para quem está no solo.