Nos últimos anos, uma mudança silenciosa tem se manifestado nos hábitos de consumo da juventude: o álcool, protagonista de gerações passadas, está perdendo espaço. Embora o consumo geral de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos tenha aumentado, a Geração Z — nascida entre 1997 e 2012 — está nadando contra a corrente, com taxas de consumo significativamente menores do que as de gerações anteriores na mesma faixa etária.
Segundo o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA, o consumo de álcool ao longo da vida, no mês anterior e no ano anterior entre jovens começou a cair por volta do ano 2000. Entre 2001 e 2023, a proporção de adultos com menos de 35 anos que afirmam beber caiu de 72% para 62%, de acordo com pesquisa da Gallup.
Da sofisticação ao desinteresse
“Está ficando claro que, por quaisquer razões, as gerações mais jovens de hoje estão menos interessadas em álcool e são mais propensas a vê-lo como arriscado para sua saúde”, afirma George F. Koob, diretor do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo.
A médica Sybil Marsh, especialista em medicina de família, observa uma mudança simbólica: “Houve um tempo em que beber era um sinal de maturidade e sofisticação. Hoje, há muitas outras formas de expressar isso, especialmente entre os jovens.”
Outras substâncias em alta?
A legalização e o acesso mais fácil à cannabis também são apontados como possíveis fatores da mudança. Dados do National Survey on Drug Use and Health de 2023 indicam que 36,5% dos adultos de 18 a 25 anos consumiram maconha no ano anterior, enquanto 68,1% consumiram álcool no mesmo período. Ainda que o álcool continue liderando, o crescimento do consumo recreativo da maconha, inclusive em bebidas, pode estar ocupando parte do espaço que antes era exclusivo do álcool.
Outro elemento importante para entender esse novo comportamento está nos hábitos de socialização. “O álcool é uma droga social. Se os jovens se encontram menos pessoalmente, é natural que bebam menos”, explica Koob.
Relatório do U.S. Surgeon General revelou que o tempo médio de convivência presencial com amigos caiu de 30 para 10 horas mensais entre 2003 e 2020 — uma queda expressiva especialmente entre os jovens de 15 a 24 anos. A epidemia da solidão, agravada pela pandemia, pode ter contribuído para isso.
Um estilo de vida mais consciente
A busca por uma vida saudável também influencia. “As novas gerações se preocupam muito mais com o bem-estar do que as anteriores. E isso aparece até na propaganda”, diz Marsh. Segundo ela, o marketing alcoólico hoje evita prometer saúde, mas tenta mostrar que é possível integrar o consumo moderado a um estilo de vida ativo, o que difere bastante do apelo “party hard” dos anos 1990 e 2000.
A existência de bares “sóbrios” como o Hekate em Nova York e o Sans Bar em Austin, voltados para experiências sociais sem álcool, é mais uma prova dessa transformação cultural.
Economia e futuro: uma pausa, não um fim
Mas será que essa tendência veio para ficar? Um relatório do Rabobank sugere que a queda atual no consumo pode ser passageira. Para o banco, há motivações estruturais e econômicas por trás do comportamento da Geração Z, como o alto custo de vida e a insegurança financeira, que postergam hábitos tradicionais da vida adulta — incluindo o consumo regular de álcool.
A projeção é que, conforme esses jovens envelheçam e se estabilizem financeiramente, seu consumo de álcool aumente e se aproxime do padrão das gerações anteriores por volta dos 30 e poucos anos.