A Caixa Econômica Federal planeja lançar ainda neste ano uma plataforma própria de apostas esportivas, a chamada “Bet da Caixa”, em modelo semelhante ao de empresas privadas do setor. A iniciativa, porém, causou desconforto no Palácio do Planalto, que tem reforçado as restrições à atividade de apostas no país.
O presidente do banco, Carlos Antônio Vieira Fernandes, afirmou ao Money Times que o projeto pode arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões, e que o lançamento está previsto para novembro. Segundo ele, a proposta é aproveitar a credibilidade da marca Caixa para atrair apostadores, inclusive com possibilidade de apostas presenciais nas casas lotéricas.
A ideia, no entanto, enfrenta resistência política e institucional. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria demonstrado insatisfação com a repercussão negativa do plano, e convocou o dirigente da Caixa para uma reunião sobre o tema.
Bloqueio não afeta o Bolsa Família
Importante destacar que o bloqueio mencionado pelo governo federal não se refere à suspensão ou cancelamento do Bolsa Família ou do Benefício de Prestação Continuada (BPC). A medida limita apenas o acesso de beneficiários sociais à futura plataforma de apostas da Caixa e aos demais sites do setor.
A restrição segue as normas da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, que determinam o bloqueio de CPFs de beneficiários nas plataformas de apostas. As operadoras devem consultar periodicamente o Sistema de Gestão de Apostas (Sigap) — desenvolvido pelo Serpro — para identificar usuários inscritos em programas sociais.
Quando detectado o CPF de um beneficiário, a empresa deverá encerrar a conta e devolver eventuais valores depositados no prazo de até três dias. A regra vale desde 1º de outubro, e as plataformas têm 30 dias para se adequar.
Repercussão e críticas
O projeto da Bet da Caixa gerou reações negativas de setores aliados e de entidades civis. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) classificou a iniciativa como contraditória:
“A Caixa precisa decidir quem quer ser: um instrumento de cidadania e desenvolvimento ou um operador de apostas digitais a serviço do lucro fácil”, afirmou o Idec em comunicado.
Influenciadores e economistas também criticaram a proposta. A criadora de conteúdo Nath Finanças escreveu nas redes sociais que o governo “não pode combater o vício em apostas e, ao mesmo tempo, criar sua própria casa de apostas”.
O governo Lula vem adotando uma postura de endurecimento contra as bets privadas, com medidas como a taxação das plataformas e a proibição de participação de beneficiários de programas sociais.
Paralelamente, a Caixa, banco público, tenta avançar no mesmo mercado que o Planalto vem tentando restringir — uma contradição que agora pressiona o governo a decidir o futuro da iniciativa.




