Pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard identificaram que a perda natural de lítio no cérebro pode ser um dos primeiros eventos no desenvolvimento do Alzheimer. O estudo, publicado na revista Nature, mostra que o elemento — que ocorre naturalmente no organismo — protege contra a degeneração neural e mantém a função de todos os principais tipos de células cerebrais.
A descoberta ocorreu após uma década de experimentos com camundongos e análises de tecidos e amostras de sangue humanos. Segundo Bruce A. Yankner, professor de genética e neurologia e autor sênior do trabalho, a hipótese de que a deficiência de lítio possa ser uma causa da doença é inédita e abre caminho para novas abordagens terapêuticas.
De refrigerante a potencial terapia
O lítio já foi ingrediente da fórmula original do refrigerante 7Up, retirado em 1948 após proibição da FDA (agência reguladora dos EUA). Há décadas, o mineral é usado na psiquiatria, principalmente no tratamento do transtorno bipolar, graças à sua ação estabilizadora de humor.
No caso do Alzheimer, os pesquisadores descobriram que depósitos de proteína beta-amiloide presentes no cérebro dos pacientes se ligam ao lítio, reduzindo sua disponibilidade. Essa redução compromete múltiplas funções cerebrais e desencadeia alterações típicas da doença, incluindo perda de memória.
Compostos ultrabaixos e resultados animadores
O estudo testou um composto chamado orotato de lítio, capaz de escapar do “aprisionamento” causado pelas placas beta-amiloides. Em camundongos, doses mil vezes menores que as usadas em terapias convencionais reverteram alterações cerebrais, restauraram memória e impediram a progressão da doença, sem sinais de toxicidade.
Os cientistas ressaltam, porém, que os resultados ainda não foram comprovados em humanos. Ensaios clínicos serão necessários para confirmar a eficácia e segurança da abordagem. Yankner adverte que a automedicação é arriscada, já que o excesso de lítio pode ser tóxico.
Se validada, a descoberta poderá não só tratar, mas prevenir o Alzheimer, oferecendo esperança para milhões de pessoas no mundo.