Um novo boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde revelou um cenário alarmante: 99,3% dos municípios brasileiros registraram doenças tropicais negligenciadas (DTNs) entre 2016 e 2020. Presentes sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, essas enfermidades continuam ligadas à pobreza, ao saneamento precário e ao difícil acesso a serviços de saúde — fatores que favorecem infecções persistentes e mortes silenciosas.
As DTNs são doenças infecciosas historicamente subfinanciadas e pouco visibilizadas, mas que provocam impactos profundos na vida das populações vulneráveis e sobrecarregam o sistema público de saúde.
O boletim destaca seis enfermidades que seguem amplamente distribuídas no território nacional e apresentam alta carga de adoecimento e mortalidade:
1. Doença de Chagas
- Transmitida principalmente pelo barbeiro.
- Continua sendo uma das principais causas de morte por doenças infecciosas em áreas rurais.
- Pode causar problemas cardíacos graves e irreversíveis quando não diagnosticada precocemente.
2. Hanseníase
- Mantém transmissão ativa em diversos estados.
- Pode deixar sequelas permanentes quando o diagnóstico é tardio.
- O Brasil está entre os países com maior número de casos no mundo.
3. Esquistossomose
- Associada ao contato com água contaminada.
- Afeta principalmente populações ribeirinhas e áreas sem saneamento.
- Pode evoluir para quadros hepáticos graves.
4. Leishmaniose visceral
- Transmitida pelo mosquito-palha.
- Altamente letal se não tratada a tempo.
- Registra milhares de casos todos os anos, sobretudo no Nordeste.
5. Leishmaniose tegumentar
- Causa lesões de pele e mucosas, com risco de desfiguração.
- Comum em regiões rurais e florestais.
6. Filariose linfática
- Conhecida por causar linfedema e elefantíase.
- Embora controlada em parte do país, ainda persiste em áreas vulneráveis.
Além dessas, o boletim também aponta casos de tracoma, infecção ocular que pode levar à cegueira quando não tratada.
Por que essas doenças persistem?
O relatório reforça a relação direta entre vulnerabilidade social e a presença dessas doenças. Os municípios com maiores índices de casos têm, em geral:
- piores indicadores de saneamento básico;
- moradias precárias;
- menor disponibilidade de serviços de saúde;
- problemas crônicos de desigualdade.
Um levantamento internacional, o Health Inclusivity Index, confirma esse cenário:
- 74% dos brasileiros enfrentam barreiras para acessar cuidados de saúde;
- 50% dos mais vulneráveis sentem discriminação no atendimento;
- 40% dizem receber apoio de membros da comunidade e não somente de profissionais;
- 73% contam com vizinhos e amigos quando enfrentam problemas de saúde.
As desigualdades estruturais favorecem a continuidade dessas doenças — e dificultam o diagnóstico, o tratamento e a prevenção.
Mortes silenciosas e baixa visibilidade
Apesar de existirem políticas públicas para controle e eliminação das DTNs, o Ministério da Saúde alerta que:
- os números permanecem elevados;
- há mortalidade significativa em várias delas;
- muitos casos são subdiagnosticados, o que agrava o impacto.
A combinação de baixa visibilidade, pobreza e dificuldades logísticas faz dessas doenças uma ameaça silenciosa e contínua.




