A ativista e líder opositora María Corina Machado, de 58 anos, foi anunciada nesta sexta-feira (10) como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, tornando-se a primeira venezuelana e uma das poucas sul-americanas a receber a honraria. O Comitê Norueguês do Nobel destacou seu “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano” e sua “luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Em vídeo divulgado por sua equipe, a ex-deputada reagiu emocionada à notícia: “Estou em choque! Não acredito!”, disse ela, ao telefone com Edmundo González Urrutia, o ex-candidato presidencial apoiado por Machado nas eleições de 2024.
Engenheira e ex-parlamentar, María Corina é considerada a principal figura da oposição venezuelana. Em 2023, venceu as primárias da coalizão opositora com mais de 90% dos votos, mas foi impedida de disputar a presidência após ser inabilitada por 15 anos pelo regime chavista. Seu aliado González Urrutia concorreu em seu lugar, em uma eleição contestada internacionalmente e apontada pela oposição como fraudulenta.
Desde então, a líder vive na clandestinidade, após denunciar perseguição política e ameaças à sua vida. Em uma carta publicada pelo Wall Street Journal no ano passado, ela afirmou ter provas de que Maduro perdeu o pleito e declarou: “Estou escondida, temendo pela minha liberdade e pela dos meus compatriotas.”
O presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jørgen Watne Frydnes, reconheceu o risco pessoal enfrentado por Machado, mas afirmou que o prêmio deve “fortalecer sua causa e não limitá-la”.
Trajetória de coragem e resistência
Nascida em Caracas, María Corina iniciou sua carreira política há mais de duas décadas, ao fundar a ONG Súmate, que promovia transparência eleitoral e participação cidadã. Foi uma das articuladoras do referendo revogatório contra Hugo Chávez, em 2004.
Em 2012, fundou o partido Vem Venezuela e se consolidou como voz firme contra o chavismo, o que lhe custou o mandato de deputada dois anos depois. Conhecida por seu discurso direto — em um dos episódios mais marcantes, interrompeu Chávez na Assembleia Nacional dizendo: “Expropriar é roubar.” —, ela enfrentou prisões, censura e restrições políticas ao longo da carreira.

Segundo o Comitê do Nobel, a escolha de Machado “representa a chama da democracia acesa em meio à escuridão”e reconhece “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”.
Significado e reconhecimento internacional
Com o Nobel, María Corina receberá 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões). Em 2024, ela já havia conquistado o Prêmio Sakharov, concedido pelo Parlamento Europeu a defensores da liberdade de pensamento.

O ex-candidato Edmundo González celebrou o anúncio em postagem no X (antigo Twitter):
“Merecidíssimo reconhecimento à ampla luta de uma mulher e de todo um povo por nossa liberdade e democracia. O primeiro Nobel à Venezuela!”
Símbolo continental de resistência
Para especialistas, o prêmio consolida María Corina Machado como um ícone da resistência democrática na América Latina, em um momento de retrocesso institucional em diversos países da região.
Ao justificar a escolha, o Comitê do Nobel afirmou:
“As ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz. María Corina Machado representa a esperança de um futuro diferente para a Venezuela, em que os direitos fundamentais sejam protegidos e as vozes dos cidadãos sejam ouvidas.”
A cerimônia de entrega do prêmio está marcada para dezembro, em Oslo, mas ainda não há confirmação de que a laureada poderá comparecer, devido à sua situação de segurança.