Um estudo publicado no prestigiado JAMA Network Open acendeu um alerta global sobre os efeitos devastadores do conteúdo digital de baixa qualidade — especialmente entre crianças e pré-adolescentes. A pesquisa revela que o uso excessivo de redes sociais e o vício eletrônico estão diretamente relacionados ao crescimento alarmante nos índices de suicídio em jovens de 8 a 12 anos.
A chamada “era dos vídeos virais” pode estar cobrando um preço altíssimo — silencioso e perigoso — no cérebro em formação de milhões de crianças. E o Brasil não está fora dessa realidade.
Entre 2001 e 2022, 2.241 crianças norte-americanas entre 8 e 12 anos morreram por suicídio. Embora a taxa tenha caído até 2007, desde então ela aumentou cerca de 8% ao ano, com crescimento desproporcional entre meninas.
A causa? Não há um único fator, mas especialistas apontam a combinação entre redes sociais, vício em telas, isolamento social e fácil acesso a armas de fogo como os principais responsáveis.
Redes sociais e “curtidas” que custam caro
Entre os 10 e 12 anos, o cérebro passa por uma reestruturação profunda. O sistema de recompensa se intensifica: elogios, curtidas e aprovação social passam a ativar áreas do cérebro ligadas ao prazer, especialmente o estriado ventral. É o mesmo circuito ativado por drogas e jogos de azar.
Ou seja: um vídeo viral pode provocar um “barato emocional” comparável a substâncias químicas — criando dependência.
De acordo com a VEJA, especialistas em saúde mental identificam uma conexão clara entre o consumo exagerado de conteúdo raso — como vídeos de desafios perigosos, filtros irreais e autoexposição constante — e o aumento de depressão, ansiedade e distorção da autoimagem em crianças e adolescentes.
A pandemia agravou o problema: confinados, isolados e com acesso irrestrito à internet, milhões de jovens passaram a viver conectados, mas cada vez mais solitários e emocionalmente frágeis.
Vídeos que viralizam… e traumatizam
O estudo alerta ainda para o impacto de vídeos com conteúdo perturbador, que circulam livremente em redes como TikTok, Instagram e YouTube. Crianças expostas repetidamente a esses vídeos desenvolvem quadros de insônia, distúrbios de atenção, irritabilidade e até comportamento suicida.
A American Academy of Pediatrics declarou emergência nacional em saúde mental infantil ainda em 2021, cobrando políticas públicas urgentes. Mas dentro de casa, pais e responsáveis são a primeira linha de defesa. Especialistas recomendam:
- Limitar o tempo de tela e o tipo de conteúdo acessado.
- Conversar abertamente sobre o que as crianças veem e sentem.
- Estimular conexões reais com amigos e familiares.
- Reforçar autoestima sem depender de validação online.
- Procurar ajuda profissional ao menor sinal de sofrimento emocional.