Durante séculos, o conhecimento geográfico global girou em torno de sete continentes. No entanto, pesquisadores da Nova Zelândia desafiaram essa narrativa e anunciaram a confirmação de um oitavo: Zelândia. Quase inteiramente submersa — com 94% de sua massa abaixo do oceano Pacífico Sul —, a Zelândia é considerada o menor, mais fino e mais jovem continente conhecido. Ainda assim, sua importância geológica é imensa.
Apenas pequenas partes de sua superfície emergem acima do mar, como a própria Nova Zelândia e algumas ilhas vizinhas. Segundo o geólogo Andy Tulloch, do instituto GNS Science, a descoberta mostra como “algo muito óbvio pode levar tempo para ser reconhecido”.
O geólogo Nick Mortimer, também do GNS Science, lidera pesquisas sobre a formação do novo continente. Estima-se que há cerca de 85 milhões de anos, a Zelândia tenha começado a se separar do supercontinente Gondwana, que reunia América do Sul, África, Antártida, Austrália e outras regiões.
À medida que as placas tectônicas se movimentavam, a crosta terrestre da Zelândia se afinou e esfriou, provocando o gradual afundamento da terra sob o nível do mar. Apesar disso, muitas rochas sedimentares da Zelândia remontam ao período Cretáceo, sugerindo que partes da massa ainda permaneceram emersas por milhões de anos.
Estudo foi publicado na revista científica Tectonics.
Evidências geológicas e reconhecimento
A confirmação de que a Zelândia é, de fato, um continente, veio com estudos detalhados realizados em 2017. Utilizando técnicas de geocronologia, os cientistas conseguiram datar rochas e detectar anomalias magnéticas que revelaram sua estrutura continental.
Entre os materiais encontrados estavam arenitos, seixos vulcânicos e lavas basálticas de idades que variam do Cretáceo Inferior ao Eoceno. Além disso, os núcleos coletados do fundo do mar revelaram pólen, esporos e conchas marinhas, indicando que a região já abrigou vegetação terrestre e mares rasos — reforçando a hipótese de que partes da Zelândia ficaram emersas por períodos significativos.

A Zelândia também intriga cientistas pela deformação geológica singular. O continente parece ter sido torcido horizontalmente ao longo de uma linha que divide a placa do Pacífico e a Australiana. Essa distorção alterou o alinhamento original das faixas rochosas, hoje quase em ângulos retos. Embora se saiba que as placas tectônicas tenham influenciado essa transformação, os mecanismos exatos permanecem desconhecidos.
“Há diversas interpretações, mas ainda não temos uma resposta definitiva”, diz Tulloch.
Exploração contínua e desafios futuros
A pesquisa sobre a Zelândia está longe de terminar. Tecnologias como imagem sísmica de alta resolução e perfuração em águas profundas devem ampliar a compreensão sobre sua história e composição. Cientistas esperam que o continente ajude a esclarecer fenômenos como a deriva continental, a formação de limites de placas tectônicas e a evolução da biodiversidade marinha.
Estudos adicionais também podem iluminar o papel da Zelândia nas mudanças climáticas passadas e sua possível influência na distribuição de espécies pelo hemisfério sul. A região, embora oculta, é um verdadeiro laboratório natural para compreender a dinâmica profunda do planeta.