Para muitos, pode soar como o emprego dos sonhos: trabalhar três semanas e depois descansar outras três inteiras. Esse é o regime 21×21, uma das escalas mais cobiçadas no mundo do trabalho embarcado — especialmente em plataformas de petróleo, navios e embarcações offshore.
Mas por trás das longas folgas e dos altos salários, essa rotina esconde exigências rigorosas, isolamento e uma disciplina militar. “Trabalhar embarcado exige resiliência, preparo físico e psicológico. São dias intensos, longe da família e em condições muitas vezes adversas”, explica um engenheiro de produção offshore que atua há mais de dez anos no setor.
O sistema de escalas varia conforme a empresa e a região de atuação. No Brasil, os modelos mais comuns são 14×14, 14×21 e 21×21, indicando, respectivamente, o número de dias trabalhados e o período equivalente de folga. Em outros países, há escalas ainda mais longas, como 28×28 ou 42×42, comuns em regiões como o Golfo do México, Mar do Norte e Oriente Médio.
Durante os dias embarcados, os profissionais costumam cumprir jornadas de até 12 horas diárias, com revezamento de turnos. O ambiente é controlado, isolado e regido por normas de segurança rigorosas.
“É uma rotina de alto risco e muita responsabilidade. Não há espaço para distrações, mas a recompensa vem na folga — são 21 dias inteiros para descansar, viajar e aproveitar a família”, resume o técnico de manutenção Ricardo Santos, que trabalha embarcado há seis anos.
As vantagens: alta remuneração e tempo livre
Apesar dos desafios, o trabalho embarcado oferece remuneração acima da média, além de benefícios adicionais como:
- Adicionais de periculosidade e insalubridade;
- Planos de saúde e seguro de vida;
- Treinamentos internacionais e certificações técnicas;
- E, claro, longos períodos de descanso remunerado.
O equilíbrio entre trabalho e lazer é um dos principais atrativos. Muitos profissionais afirmam que a folga prolongada compensa o isolamento: “Durante as três semanas em casa, dá pra viver o que muita gente só consegue nas férias”, comenta Ricardo.
As desvantagens: confinamento e saudade
Por outro lado, o isolamento é o maior desafio. Trabalhar embarcado significa viver em um espaço restrito, cercado por mar, com poucas opções de lazer e sem contato direto com a família.
Além disso, o trabalhador precisa lidar com condições climáticas severas, ruídos constantes e riscos operacionais.
Outro ponto delicado é a possibilidade de dobras — quando o funcionário precisa permanecer embarcado além do período previsto, por necessidade operacional, mau tempo ou falta de substituto. Nesses casos, a legislação garante pagamento adicional pelos dias excedentes, e, em situações extremas, até indenização por dano moral.
Conheça seus direitos no regime embarcado
Os trabalhadores sob regime de embarque têm proteção específica da CLT e das convenções coletivas da categoria. Em caso de dobra ou irregularidade, é importante reunir provas (como registros de embarque e comunicações internas) e buscar assistência jurídica especializada.




