Em um dos episódios mais inesperados da crise venezuelana nos últimos anos, Nicolás Maduro teria afirmado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estava disposto a deixar a Venezuela — desde que ele e sua família recebessem “anistia legal e completa”, o levantamento de todas as sanções americanas e a suspensão do processo que enfrenta no Tribunal Penal Internacional (TPI). A informação foi revelada por fontes ouvidas pela agência Reuters.
A conversa, que durou menos de 15 minutos, ocorreu em um momento de intensa tensão entre Washington e Caracas. Segundo as fontes, Maduro chegou a sugerir que a vice-presidente Delcy Rodríguez assumisse um governo interino até a convocação de novas eleições. Trump, porém, rejeitou a maior parte das exigências e deu a Maduro “uma semana” para deixar o país rumo ao destino de sua escolha, acompanhado por seus familiares.
A ligação foi confirmada pelo próprio Trump, que, quando questionado por repórteres a bordo do Air Force One, declarou apenas:
“A resposta é sim. Foi uma ligação telefônica. Não diria que foi boa ou ruim.”
O diálogo acontece enquanto os Estados Unidos ampliam sua presença militar no Caribe, oficialmente sob o argumento de combater o narcotráfico. Mais de 15 mil soldados, além do maior porta-aviões do mundo, foram posicionados perto da costa venezuelana. Desde setembro, os EUA realizaram ao menos 21 ataques contra supostas embarcações de droga, que deixaram 83 mortos, segundo dados oficiais.
Especialistas afirmam que o poderio militar deslocado ultrapassa o necessário para uma operação antidrogas. Já Caracas acusa Washington de usar o pretexto do combate ao tráfico para forçar uma mudança de regime e tomar o controle das vastas reservas de petróleo do país.
Maduro, em comícios recentes transmitidos pela TV estatal, reafirmou que a Venezuela quer paz, mas não “submissão”.
“Não queremos a paz dos escravos nem das colônias. Colônia, nunca! Escravos, nunca!”, disse o líder venezuelano em um ato em Caracas.
Silêncio em Caracas e aparição pública após rumores de fuga
A chamada telefônica gerou especulações no país, especialmente porque Maduro ficou dias sem aparecer em público — o que alimentou rumores de que teria fugido diante do cerco militar americano.
Maduro surgiu em um evento de premiação de cafés especiais em Caracas. Sorridente, provou diferentes variedades de café e distribuiu medalhas. Em discurso, evitou mencionar a crise, mas reforçou que o país é “indestrutível, intocável, imbatível”.
Enquanto isso, autoridades venezuelanas mantiveram silêncio sobre a ligação. Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, recusou-se a comentar o telefonema:
“Não é o tema desta coletiva”, afirmou, concentrando-se em denunciar ataques marítimos dos EUA que, segundo o governo venezuelano, violam sua soberania.
Apesar do clima de tensão, Trump negou que suas recentes advertências sobre o espaço aéreo venezuelano indiquem ataques iminentes.




