Em meio à popularização de aplicativos de listas e anotações digitais, escrever a lista de compras do supermercado à mão pode parecer um costume ultrapassado. A ciência, no entanto, aponta o contrário: a escrita manual ativa regiões específicas do cérebro responsáveis pela memória, pela organização de ideias e pela atenção, tornando essa prática mais eficiente do que digitar informações em dispositivos eletrônicos.
Pesquisas em psicologia e neurociência indicam que o simples ato de anotar no papel ajuda o cérebro a processar melhor as informações, aumentando a capacidade de lembrar o que precisa ser comprado e reduzindo esquecimentos durante as tarefas do dia a dia.
Estudos mostram que escrever à mão envolve simultaneamente percepção visual, coordenação motora, processamento sensorial e memória. Esse conjunto de estímulos faz com que o cérebro trabalhe de maneira mais integrada do que quando se utiliza apenas o teclado de um celular ou computador.
Uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Psychology, conduzida por Audrey van der Meer e Ruud van der Weel, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), monitorou a atividade cerebral de estudantes enquanto escreviam e digitavam palavras. O resultado revelou maior conectividade entre diferentes áreas do cérebro durante a escrita manual.
Segundo a pesquisadora, ao escrever à mão, a pessoa precisa selecionar, priorizar e reformular a informação, o que favorece a compreensão e a retenção.
Por que escrever ajuda a lembrar melhor?
Ao fazer uma lista de compras no papel, o cérebro transforma uma informação verbal ou mental em um registro físico. Esse processo reforça os chamados “caminhos da memória”, facilitando o acesso posterior à informação — inclusive sem consultar a lista.
De acordo com Sophia Vinci-Booher, professora de neurociência educacional da Universidade Vanderbilt, a escrita manual cria uma ligação direta entre ação motora e reconhecimento visual. “Ao escrever uma palavra, você usa o sistema motor para criar algo que depois é processado novamente pelo sistema visual”, afirma. Esse ciclo fortalece a associação entre ação e significado.
Digitar não gera o mesmo efeito cognitivo
Na digitação, os movimentos dos dedos são repetitivos e pouco variados, o que exige menos esforço cognitivo. Já na escrita manual, cada letra demanda um gesto específico, estimulando mais áreas do cérebro.
Segundo van der Meer, essa diferença é ainda mais perceptível em crianças. “Quem aprende a escrever apenas em telas digitais pode ter mais dificuldade em diferenciar letras semelhantes, como ‘b’ e ‘d’”, observa a pesquisadora.
A pesquisadora Yadurshana Sivashankar, da Universidade de Waterloo, destaca que transformar a informação em outra forma exige maior envolvimento mental. “Quando você produz algo significativo, cria conexões neurais mais profundas, o que torna a informação mais fácil de acessar depois”, explica.
No cotidiano, isso significa que escrever a lista de compras à mão pode ajudar não apenas a lembrar dos itens, mas também a organizar melhor prioridades, evitar compras por impulso e manter maior controle das tarefas.




