A trajetória espiritual de Jorge Mario Bergoglio, mais conhecido como Papa Francisco, não começou em silêncio nem em recolhimento. Filho das ruelas movimentadas de Buenos Aires, o argentino viveu uma juventude marcada por amizades intensas, noites dançantes ao som de orquestras de tango e, como ele mesmo confessou em autobiografias, paixões que quase o desviaram do caminho sacerdotal.
Entre os episódios mais curiosos de sua vida, está a história com Amalia Damonte, vizinha de infância que recebeu uma carta romântica do jovem Bergoglio aos 12 anos. Nela, ele desenhava a casa onde morariam e fazia uma promessa insólita: “Se não casar com você, viro papa”. Rejeitado, Jorge seguiu em frente — e o mundo viu o desfecho dessa profecia precoce.
Trajetória na igreja
Décadas mais tarde, ao se tornar o primeiro Papa jesuíta, latino-americano e não europeu em mais de 1.300 anos, Francisco se tornaria também o símbolo de uma Igreja mais próxima do povo. Foi o Papa dos gestos simples: recusou o luxo dos apartamentos papais, preferia carregar a própria bagagem e fazia ligações diretamente para fiéis.
Mas, como ele sempre gostava de frisar, era um homem comum, feito de carne, osso e emoções. “Durante o seminário, tive uma recaída. Me apaixonei por uma moça no casamento de um tio. Era linda e inteligente. Foi difícil rezar naquela semana!”, contou em tom bem-humorado na autobiografia Vida: A minha história através da História, lançada em 2024.
Vida em Buenos Aires
Antes disso, fazia parte de um grupo inseparável de amigos, os “dez muchachos”, com quem discutia política, jogava bilhar e organizava festas. Nessas idas e vindas da juventude, em um 21 de setembro de 1953, Jorge tomou uma decisão que mudaria tudo. A caminho de um encontro com os amigos, entrou na Basílica de San José de Flores, ajoelhou-se e, ao se confessar, sentiu o chamado vocacional.
“Senti-me acolhido pela misericórdia do Senhor. Algo mudou para sempre naquele instante”, relembrou.
Francisco faleceu na última segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, encerrando um papado que revolucionou a imagem da Igreja Católica. “Sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e dos pobres”, declarou o cardeal Kevin Farrell, camerlengo do Vaticano.