Muito antes de se tornar o símbolo comercial do Natal moderno, o Papai Noel teve origem em um personagem real: São Nicolau de Mira, um bispo cristão que viveu entre os séculos 3º e 4º depois de Cristo, na região da atual Turquia. Extremamente religioso e conhecido por sua generosidade, ele deu origem à figura que, séculos depois, seria transformada no “bom velhinho” conhecido no mundo inteiro.
A origem histórica do Papai Noel está ligada a São Nicolau de Mira, também chamado de Nicolau Taumaturgo. Bispo da Igreja Cristã, ele ganhou fama por usar a herança da família para ajudar os mais pobres, especialmente crianças órfãs e famílias em situação extrema de miséria.
Um dos episódios mais conhecidos de sua trajetória relata o encontro com um homem pobre que tinha três filhas sem condições de se casar. Para evitar que elas fossem lançadas à miséria, Nicolau teria doado, em segredo, os dotes necessários para cada uma delas. O gesto consolidou sua reputação como símbolo de caridade e proteção aos necessitados.
A devoção a São Nicolau se espalhou pela Europa e permanece forte até hoje em lugares como Bari, na Itália, onde estão suas relíquias. Ele também se tornou padroeiro dos pobres, das crianças, dos órfãos e de países como Grécia e Rússia.

Nem sempre vestido de vermelho
Contrariando a imagem popular, o Papai Noel nem sempre usou roupas vermelhas. As primeiras ilustrações do personagem, datadas do século 19, o retratavam com vestes verdes ou marrons, cores associadas à natureza e ao inverno europeu.
A consolidação do figurino vermelho só aconteceu décadas depois, com a influência de artistas como Thomas Nast, que, a partir de 1863, passou a desenhar um Santa Claus mais próximo do que se conhece hoje. Em 1881, Nast apresentou uma versão quase definitiva do personagem, com barba branca, semblante alegre e roupa vermelha com detalhes claros.
Embora campanhas publicitárias da Coca-Cola, iniciadas em 1931, tenham ajudado a popularizar mundialmente o Papai Noel de roupa vermelha, historiadores ressaltam que o visual já estava praticamente definido décadas antes. As ilustrações de Norman Rockwell, J.C. Leyendecker e outros artistas foram decisivas para fixar a imagem do personagem como um símbolo de nostalgia e afeto.

Da alegoria ao personagem natalino
Antes de se tornar um distribuidor de presentes, o Papai Noel era uma figura alegórica. Entre os séculos 15 e 18, personagens como “Sir Christëmas” ou “Father Christmas” representavam o espírito da festa, associado à fartura, à alegria e às celebrações adultas — e não às crianças.
Na Inglaterra, festivais como o Yule Ridings e personagens conhecidos como “Lords of Misrule” simbolizavam o período natalino, muitas vezes marcado por excessos e desordem. A figura do “velho Natal” só começou a assumir traços mais familiares a partir do século 17, em peças teatrais como Christmas, His Masque, do dramaturgo Ben Jonson, apresentada em 1616.
Tradição religiosa, disputa política e reinvenção cultural
Ao longo dos séculos, o Natal e seus símbolos também foram alvo de disputas religiosas. Durante o período puritano na Inglaterra, as celebrações natalinas chegaram a ser proibidas pelo Parlamento em 1647, junto com outras festividades cristãs. Nesse contexto, a personificação do “velho Pai Natal” passou a simbolizar resistência cultural e tradição popular.
Mais tarde, nos Estados Unidos do século 19, intelectuais e escritores reformularam a figura inspirada em São Nicolau para criar um Natal mais familiar e doméstico. Historiadores apontam que essa transformação buscava afastar o caráter caótico das antigas celebrações e reforçar valores como convivência, generosidade e infância.




