Considerado por muitos viajantes como o passeio de trem mais bonito do mundo, o trajeto que cruza a histórica linha de Ofoten, no norte da Noruega, virou uma das experiências mais disputadas do turismo ártico.
Operando entre setembro e março — período de maior incidência da aurora boreal — o trem panorâmico parte de Narvik e percorre 42 quilômetros até a fronteira com a Suécia, atravessando um dos cenários mais remotos e dramáticos da Europa.
O grande diferencial do chamado Arctic Train está no projeto dos vagões: tetos e paredes de vidro permitem visão ampla do céu, condição ideal para observar a aurora boreal sem interferência de luz artificial. O trem opera em regiões praticamente desabitadas, onde a poluição luminosa é nula — um dos fatores que torna o fenômeno mais nítido e intenso.
Durante o trajeto, os passageiros fazem paradas estratégicas em estações históricas. Uma das mais aguardadas é Katterat, a 373 metros de altitude. Ali, turistas descem para apreciar a paisagem nevada, caminhar por trilhas curtas e aquecer-se ao redor de fogueiras enquanto aguardam o show natural das luzes dançantes no céu ártico.
Uma ferrovia construída entre montanhas, guerra e história
A linha de Ofoten — ou Ofotbanen — é considerada uma das obras de engenharia mais desafiadoras do século 19. Construída inicialmente por uma companhia inglesa em 1884 e concluída por iniciativa conjunta dos governos norueguês e sueco, a ferrovia exigiu mais de 5.000 trabalhadores, túneis, pontes e trilhos instalados em terreno montanhoso extremo. A operação foi oficialmente inaugurada em 1902.

Com 42 km ligando Narvik à fronteira sueca, a linha se conecta ao sistema ferroviário da Suécia e segue até Kiruna. Seu traçado inclui o ponto mais ao norte da malha ferroviária europeia de bitola padrão.
Além da relevância logística — crucial para o transporte de minério de ferro — a ferrovia teve papel estratégico durante a Segunda Guerra Mundial. A Batalha de Narvik, em 1940, envolveu disputas pelo controle da rota do minério, vital para a indústria bélica da época.
Katterat, Rombak e estações preservadas no meio do Ártico
Ao longo do caminho, estações pequenas e elegantes contrastam com a paisagem selvagem. Rombak, com sua antiga torre d’água restaurada, e Katterat, antes habitada por ferroviários e hoje deserta, ajudam a contar a história centenária da linha. Muitas dessas estruturas foram preservadas como patrimônio histórico, transformando o passeio em uma viagem no tempo.
A rota oferece vistas contínuas do fiorde azul-gelo de Narvik, cachoeiras congeladas, vales isolados e montanhas dramáticas. O trem avança lentamente em trechos mais altos, permitindo que os turistas fotografem e contemplem a paisagem em total silêncio — quebrado apenas pelas explicações do guia a bordo sobre geologia, história e curiosidades locais.




