Um lago infestado de mosquitos, no coração do Pântano de Zapata — o maior pântano preservado do Caribe — tornou-se palco de uma corrida silenciosa para impedir o desaparecimento do manjuarí (Atractosteus tristoechus), também conhecido como peixe-cuban gar. A espécie, que habita a região há mais de 140 milhões de anos, está classificada desde 2020 como criticamente ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), segundo a Reuters.
O manjuarí é considerado um “fóssil vivo”: sobreviveu a mudanças geológicas e climáticas desde a era dos dinossauros, mas agora enfrenta seu maior risco de extinção — não por eventos naturais, mas por impactos causados pelo ser humano.
De acordo com especialistas, a drástica redução da espécie se deve a uma combinação de ameaças. A perda de habitat vem diminuindo as áreas de reprodução do manjuarí, enquanto a caça e a pressão humana agravam o declínio populacional. Contudo, o golpe mais devastador ocorreu em 1999, quando o governo cubano introduziu o bagre-africano (Clarias gariepinus), conhecido como claria, para reforçar a produção de alimentos no país.
A iniciativa se transformou em desastre ecológico. A claria, altamente voraz e resistente, se tornou um predador invasor que devastou ecossistemas inteiros, eliminando espécies nativas e competindo diretamente com o manjuarí pelos mesmos recursos. Relatórios ambientais e alertas de conservação mostram que essa invasão acelerou a degradação dos ambientes aquáticos cubanos e empurrou o manjuarí para os últimos refúgios no Pântano de Zapata.
Equipe de biólogos tenta salvar a espécie com criação controlada
Diante do cenário crítico, um grupo de biólogos liderado por Andrés Hurtado trabalha em uma operação de resgate no interior do pântano. Em uma pequena estação de criação, cercada por manguezais, os pesquisadores realizam a reprodução controlada do manjuarí — um processo difícil e minucioso.
As larvas, extremamente frágeis e do tamanho de um lápis, escondem-se entre raízes e folhagens, dificultando o monitoramento. A falta de insumos, a localização isolada e a presença de predadores complicam ainda mais o trabalho.
Apesar das dificuldades, há sinais de recuperação. Filhotes criados em cativeiro já foram devolvidos ao pântano, e pescadores locais relatam avistamentos recentes do peixe em áreas onde ele não era visto havia anos.

Sinais de alerta: mortes recentes e fragilidade do ecossistema
A urgência do problema ficou evidente quando dois exemplares de manjuarí foram encontrados mortos nas ruas de Havana. As causas ainda são desconhecidas, mas o episódio acendeu o alerta na comunidade científica, que teme que a espécie esteja mais vulnerável do que se imagina.
Cientistas cubanos reforçam que o desaparecimento do manjuarí seria uma perda irreparável — não apenas para a biodiversidade da ilha, mas para a história natural do planeta.
A batalha por um símbolo da biodiversidade cubana
Para pesquisadores e ambientalistas, preservar o manjuarí é preservar um pedaço vivo do passado da Terra. O peixe representa a resistência de uma linhagem que atravessou eras inteiras — e que agora depende da mobilização humana para continuar existindo.
Eles defendem maior apoio institucional, políticas ambientais eficazes e investimentos em conservação. A luta pela sobrevivência do manjuarí, afirmam, é também uma luta pela proteção dos ecossistemas cubanos como um todo, cada vez mais pressionados por espécies invasoras, degradação e mudanças ambientais.




