Eles estavam em praticamente todas as mesas: na merenda escolar, no restaurante por quilo, no café da tarde em família. Resistentes, baratos e de tom marrom inconfundível, os pratos âmbar da Duralex marcaram gerações de brasileiros. Mas, discretamente, desapareceram das prateleiras. O que era utensílio cotidiano virou artigo de luxo — e hoje pode custar milhares de reais.
A resposta passa por mudanças industriais, decisões comerciais e, mais recentemente, pela força da nostalgia, que transformou louças comuns em peças disputadas por colecionadores.
A Duralex nasceu em 1945, na França, logo após a Segunda Guerra Mundial, criada pelo grupo Saint-Gobain. A empresa se destacou ao dominar a técnica do vidro temperado, mais resistente ao calor e a impactos. O nome vem do latim Dura lex, sed lex (“a lei é dura, mas é a lei”), reforçando a proposta de robustez e confiabilidade.
Importada para o Brasil a partir dos anos 1950, a marca ganhou força de vez nas décadas seguintes, especialmente quando passou a ser fabricada nacionalmente. A produção local começou nos anos 1980, pela Santa Marina, e a linha âmbar — pratos, copos, xícaras e pires em vidro marrom — virou sinônimo de durabilidade e custo acessível.
Nos anos 1990, os produtos já estavam por toda parte. Eram mais baratos que a porcelana, difíceis de quebrar e suportavam o uso intenso do dia a dia. A Duralex chegou a empregar cerca de 1.500 pessoas e produziu mais de 130 milhões de unidades ao redor do mundo.

A descontinuação silenciosa da linha âmbar
A virada começou em 2011, quando a operação brasileira passou para o controle da Nadir Figueiredo, maior fabricante nacional de vidros domésticos, após a compra da Santa Marina. No ano seguinte, em 2012, a decisão foi tomada: a famosa linha âmbar seria descontinuada.
Desde então, a Duralex segue ativa no Brasil, mas com modelos atualizados em vidro temperado apenas nas cores transparente e azul, vendidos atualmente por valores entre R$ 50 e R$ 109 o kit com seis peças. A marca brasileira, inclusive, opera de forma independente da matriz francesa.
A retirada da linha marrom do mercado não foi acompanhada de grandes anúncios — e muitos consumidores só perceberam o sumiço quando já não encontravam mais os produtos à venda.
De prato comum a objeto de desejo
O que parecia apenas uma mudança de portfólio acabou criando um fenômeno inesperado. Com a produção encerrada, os itens antigos passaram a ganhar valor no mercado de usados. Hoje, não é difícil encontrar copos e pratos sendo vendidos por mais de R$ 100 a unidade em plataformas online.
Há anúncios ainda mais extremos: quatro peças por R$ 2.890, seis pires por R$ 2.600 e até conjuntos completos — com pratos, xícaras, pires e travessas — listados por valores que chegam a R$ 50 mil.




