Milhões de brasileiros consomem regularmente um aditivo alimentar que está banido ou restrito em ao menos 160 países, incluindo China, Rússia e toda a União Europeia: o cloridrato de ractopamina.
Usado como promotor de crescimento em porcos, bois e perus, o composto faz parte da classe dos beta-agonistas, drogas que aceleram o metabolismo dos animais, aumentando a deposição de proteína e reduzindo a gordura. Isso resulta em carne mais magra, barata e em maior quantidade — mas com risco à saúde humana, animal e ambiental, segundo diversas entidades internacionais.
- A substância, fabricada principalmente na Índia e usada em países como Brasil, EUA, Canadá e Austrália, ajuda os animais a crescerem mais rápido e com menos consumo de ração, o que reduz custos e aumenta a rentabilidade dos criadores e frigoríficos.
- Porém, estudos e alertas de agências como a FDA (Estados Unidos) e a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) apontam riscos:
- Aceleração dos batimentos cardíacos e ansiedade em humanos que consomem carne com resíduos do aditivo;
- Maior incidência de lesões, fraturas e estresse extremo nos animais, muitas vezes incapazes de caminhar até o abate;
- Possível contaminação ambiental de águas superficiais e subterrâneas, afetando ecossistemas e espécies aquáticas.
Apesar disso, a FDA e órgãos reguladores do Brasil ainda permitem o uso do aditivo, com base nos limites de resíduos definidos em 2012 pelo Codex Alimentarius (ONU), mesmo que esses limites sejam mais altos do que os adotados em países que baniram o produto.
Por que outros países proibiram?
- A China considera a ractopamina parte de uma família de drogas que já demonstraram efeitos perigosos ao sistema cardiovascular humano.
- A União Europeia proibiu a substância porque, segundo especialistas, os dados de segurança não são suficientes para estabelecer um consumo “aceitável” sem risco à saúde.
- Na Rússia e em mais de 150 países, a decisão foi motivada tanto por razões de saúde pública quanto por preocupações com o bem-estar animal e impacto ambiental.
Por que o Brasil continua usando?
No país, o uso é permitido com base em parâmetros de resíduos estabelecidos pelo Codex Alimentarius. A indústria alega que a ractopamina:
- Reduz custos de produção, tornando a carne mais acessível;
- Diminui a emissão de dejetos e o uso de ração e água, o que, segundo defensores, contribui para a sustentabilidade;
- Gera carne com menos gordura, em linha com a demanda do consumidor moderno.
Por outro lado, organizações como o Centro para a Segurança Alimentar (EUA) e o Animal Legal Defense Fund pressionam pela proibição global, afirmando que a substância é desnecessária e perigosa, e que os riscos superam os benefícios econômicos.