Em comemoração ao centenário do cinema brasileiro, o jornal O Globo reuniu mais de 100 cineastas do país para escolher os 50 melhores filmes nacionais lançados desde o ano 2000. O resultado é um retrato da vitalidade, diversidade e relevância do audiovisual brasileiro nas últimas duas décadas e meia.
A missão não foi simples. De acordo com dados do site Filme B, 2.579 longas-metragens brasileiros estrearam nos cinemas entre janeiro de 2000 e junho de 2025. Cada votante foi convidado a indicar dez títulos favoritos, sem ordem de preferência. Após o cruzamento das informações, nasceu uma lista que contempla tanto produções consagradas quanto joias escondidas da filmografia nacional.
Apesar da representatividade crescente, o levantamento evidencia desafios persistentes. Somente 13 das 50 obras foram dirigidas por mulheres. Duas estão no top 10: Que horas ela volta? e Bicho de sete cabeças. A presença feminina entre os votantes foi de aproximadamente 40%, enquanto diretores negros foram 12% dos eleitores e 8% dos filmes escolhidos.
O longa Marte Um, de Gabriel Martins, é o único dirigido por um cineasta negro entre os dez primeiros colocados.
A equipe de O Globo convidou 117 profissionais do cinema brasileiro, entre diretores, roteiristas, produtores e atores com experiência em direção. Cada um enviou uma lista com dez longas nacionais lançados a partir de 2000, sem ordem de preferência. Entre os participantes estão nomes como:
- Fernando Meirelles
- Petra Costa
- Anna Muylaert
- Heitor Dhalia
- Joel Zito Araújo
- Leandra Leal
- Lázaro Ramos
- Glenda Nicácio
- Caio Blat
‘Cidade de Deus’ é eleito o melhor filme nacional do século
Com mais de 50% de menções entre os votantes, Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, foi eleito o melhor filme brasileiro do século XXI. O longa, indicado a quatro Oscars, é uma adaptação do livro de Paulo Lins e ajudou a projetar nomes como Bráulio Mantovani, Daniel Rezende, César Charlone, Alice Braga, Seu Jorge e Leandro Firmino.
“Com direção e montagem impecáveis, atuações marcantes e uma brasilidade pulsante, ‘Cidade de Deus’ transformou a forma como o cinema brasileiro é visto no mundo”, destacou Carlos Saldanha, diretor das animações Rio e A Era do Gelo.
Top 10: diversidade de gêneros, temas e vozes
A seleção dos dez primeiros coloca em destaque não apenas dramas sociais e obras de arte autorais, mas também documentários e filmes que dialogam com o grande público. Confira os dez primeiros colocados:
- Cidade de Deus (2002), Fernando Meirelles
- Ainda estou aqui (2024), Walter Salles
- O som ao redor (2012), Kleber Mendonça Filho
- Que horas ela volta? (2015), Anna Muylaert
- Edifício Master (2002), Eduardo Coutinho
- Madame Satã (2002), Karim Aïnouz
- Jogo de cena (2007), Eduardo Coutinho
- Cinema, aspirinas e urubus (2005), Marcelo Gomes
- Marte um (2022), Gabriel Martins
- Bicho de sete cabeças (2000), Laís Bodanzky
Karim Aïnouz é o diretor mais citado da lista
Com quatro filmes no top 50 — Madame Satã (2002), O céu de Suely (2006), A vida invisível (2019) e Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009, em parceria com Marcelo Gomes) —, o cearense Karim Aïnouz lidera em número de menções. Outros cineastas com mais de uma obra na lista incluem:
- Eduardo Coutinho: Edifício Master e Jogo de cena
- Kleber Mendonça Filho: O som ao redor, Aquarius (2016) e Bacurau (2019)
- José Padilha: Ônibus 174 (2002) e Tropa de Elite (2007)
- Adirley Queirós: Branco sai, preto fica (2014) e Mato seco em chamas (2022)
- André Novais Oliveira: Ela volta na quinta (2015) e Temporada (2018)
- Juliana Rojas e Marco Dutra: Trabalhar cansa (2011) e As boas maneiras (2017)
De norte a sul: cinema brasileiro se descentraliza
Embora São Paulo ainda concentre o maior número de diretores na lista (11), outros estados também ganharam destaque:
- Pernambuco: 8 realizadores
- Minas Gerais: 6
- Rio de Janeiro: 6
- Ceará e Distrito Federal: 3 cada
- Goiás, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul: 1 cada
A variedade geográfica indica uma descentralização progressiva da produção cinematográfica no país.