Um novo estudo apresentado durante a Semana Europeia de Gastroenterologia, em Berlim, revelou que o consumo diário de refrigerantes zero ou diet pode elevar em até 60% o risco de desenvolver doença gordurosa do fígado não alcoólica — uma condição que causa acúmulo de gordura no fígado e pode evoluir para cirrose ou câncer hepático.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Soochow, na China, analisou os hábitos alimentares e de consumo de bebidas de milhares de pessoas e constatou que até mesmo o consumo moderado, equivalente a uma lata por dia, já está associado ao aumento expressivo do risco da doença.
A doença gordurosa do fígado não alcoólica (NAFLD) — também chamada de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD) — ocorre quando há acúmulo de gordura no fígado de pessoas que consomem pouco ou nenhum álcool. Segundo os pesquisadores, os danos podem ser semelhantes aos de quem consome bebidas alcoólicas em excesso, levando à inflamação, à fibrose e, em casos graves, à cirrose.
“As bebidas açucaradas há muito tempo estão sob escrutínio, enquanto suas versões ‘diet’ são vistas como opções mais saudáveis. No entanto, nosso estudo mostra que elas também estão ligadas a um risco elevado de doenças hepáticas, mesmo em pequenas quantidades”, afirmou o autor principal, Lihe Liu, do departamento de gastroenterologia do Primeiro Hospital Afiliado da Universidade de Soochow.
Dados reforçam alerta sobre consumo diário
Os pesquisadores destacaram que tanto as bebidas açucaradas quanto as adoçadas artificialmente foram associadas a maior incidência de diabetes tipo 2 e doenças hepáticas crônicas. Em estudo paralelo realizado na Austrália com mais de 36 mil pessoas, o consumo diário de refrigerante diet foi ligado a um risco 38% maior de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação com quem raramente consumia essas bebidas.
Esses resultados reforçam preocupações anteriores sobre os efeitos metabólicos dos adoçantes artificiais, especialmente o aspartame, um dos ingredientes mais comuns em refrigerantes zero. Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o aspartame como “possivelmente carcinogênico”, embora tenha ressaltado que o consumo moderado ainda é considerado seguro.
Um problema de saúde global
A MASLD já é uma das principais causas de câncer de fígado no mundo. Estima-se que a prevalência da doença tenha aumentado 50% nos últimos 30 anos, afetando hoje cerca de 38% da população dos Estados Unidos — tendência que também preocupa especialistas brasileiros.
Segundo os pesquisadores, os novos achados reforçam a necessidade de reavaliar o papel das bebidas adoçadas — com ou sem açúcar — na alimentação cotidiana.
“Esses resultados desafiam a percepção de que os refrigerantes diet são inofensivos e mostram a urgência de repensar seu impacto na saúde hepática”, afirmou Liu.
O estudo ainda não foi publicado em revista científica e aguarda revisão por pares, mas já acende um sinal de alerta para o consumo regular de bebidas adoçadas, mesmo entre aquelas rotuladas como “sem açúcar”.