Imagine entrar em um restaurante, pedir um sanduíche e receber uma sopa. Ou solicitar um café gelado e ganhar um chá quente. No Restaurant of Mistaken Orders (“Restaurante dos Pedidos Errados”), em Tóquio, esse tipo de confusão não só é esperado como celebrado. Lá, os garçons são pessoas com demência, e o erro faz parte do cardápio.
Criado pelo diretor de TV japonês Shiro Oguni, o restaurante tem como principal objetivo conscientizar o público sobre o convívio com a demência, uma condição neurodegenerativa que atinge milhões de pessoas no Japão e em todo o mundo. O país, com uma das maiores populações idosas do planeta, já contabiliza mais de 6 milhões de casos, número que deve subir para 7,3 milhões até 2025.
O restaurante, que funciona como um pop-up — abrindo em locais e datas específicas — inverte a lógica tradicional do serviço: a experiência não está em acertar o pedido, mas em acolher quem o serve. Durante os primeiros eventos, cerca de 37% dos pedidos saíram errados, mas 99% dos clientes disseram ter ficado satisfeitos com a experiência.
Casos inusitados não faltam. Uma garçonete sentou-se com os clientes por engano, pensando ser uma das mesas. Outra pediu que os próprios clientes anotassem os pedidos. Em vez de reclamações, o que se ouve são risos e palavras de incentivo.
Um projeto global com lições locais
Desde sua criação em 2017, o projeto arrecadou mais de US$ 115 mil (cerca de R$ 560 mil) em financiamento coletivo. E a ideia ganhou o mundo, com versões em países como Coreia do Sul e Austrália. Para funcionar, o restaurante conta com apoio de profissionais de gastronomia, designers de interiores, cuidadores e voluntários.
Além de conscientizar o público sobre a realidade de pessoas com demência, o projeto oferece aos idosos uma nova forma de participação social. A coordenadora do projeto, Yui Iwata, ao The Washington Post disse que muitos idosos ficam isolados em casas de repouso e que espera que esse tipo de iniciativa devolva a eles um propósito e alegria
Restaurante dos erros que acerta em cheio no coração
A estrutura do restaurante é pensada para dar suporte aos funcionários. As mesas são numeradas com cores, os formulários de pedido são adaptados e os voluntários estão sempre por perto. Vídeos e depoimentos mostram clientes tirando selfies com os atendentes, dando palavras de apoio e até brincando com os pedidos trocados.
E o mais importante: os clientes saem dali transformados. “Isso não é o que pedi… Mas tudo bem!”, disse um frequentador. Em vez de cobrança, o ambiente é de empatia, leveza e aprendizado coletivo.