A Rússia deu início a uma nova etapa na luta global contra o câncer com o anúncio de uma vacina de mRNA personalizada, que será testada clinicamente a partir de setembro deste ano. O imunizante foi desenvolvido em colaboração por três instituições médicas de prestígio do país: o Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, o Instituto de Pesquisa em Oncologia Herzen e o Centro Nacional de Oncologia Blokhin.
A vacina, segundo o governo russo, será distribuída gratuitamente a pacientes com câncer dentro do país a partir de 2026. A primeira fase dos testes clínicos será focada em pacientes com melanoma e câncer de pulmão de pequenas células — dois tipos agressivos e com alta taxa de mortalidade. Futuramente, a aplicação deve ser estendida para neoplasias malignas nos rins, mamas e pâncreas.
Tecnologia de ponta e tratamento individualizado
O diferencial da vacina russa está em sua abordagem personalizada: cada dose será desenvolvida exclusivamente com base no perfil genético do tumor do paciente. Utilizando inteligência artificial, a plataforma identifica mutações específicas e produz instruções de mRNA que treinam o sistema imunológico para reconhecer e destruir células cancerígenas.
De acordo com Andrey Kaprin, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa Médica Radiológica, cada dose individual da vacina custará cerca de 300 mil rublos ao governo (aproximadamente R$ 17 mil na cotação atual), mas será fornecida gratuitamente aos pacientes russos elegíveis.
Apesar do entusiasmo, Kaprin e outros especialistas reconhecem que a eficácia da vacina pode variar dependendo do tipo de câncer e do estágio da doença. Além disso, a iniciativa russa ainda não divulgou dados científicos detalhados dos testes pré-clínicos, o que gera cautela na comunidade médica internacional.
Avanço promissor, mas não é cura universal
A proposta russa faz parte de uma tendência global: o uso de vacinas de mRNA como imunoterapia contra o câncer tem sido objeto de pesquisas em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, vacinas experimentais como a da empresa CureVac já demonstraram potencial em casos de glioblastoma, um dos tumores cerebrais mais agressivos.
Entretanto, médicos alertam que tais vacinas ainda estão em estágio experimental e não devem ser vistas como substitutas para os tratamentos convencionais — como quimioterapia, radioterapia, cirurgia e terapias-alvo. “Essas vacinas podem ser úteis como complemento ou em casos onde os tratamentos padrão não surtiram efeito”, afirma o Oncocirurgião, Dr. Naveen Sanchety, ao The Times of India.
O maior desafio ainda é a capacidade dos tumores de se adaptarem e escaparem da resposta imune, o que dificulta o desenvolvimento de uma vacina universal. Assim, embora o anúncio russo represente um passo relevante, o caminho até uma cura definitiva ainda exige cautela, testes rigorosos e validação científica global.