No núcleo da Via Láctea, a 26 mil anos-luz da Terra, repousa um dos objetos mais extremos do Universo: Sagitário A*, um buraco negro supermassivo com massa equivalente a quatro milhões de sóis. Quase invisível por estar envolto em poeira cósmica, ele é o ponto em torno do qual todas as estrelas da galáxia — inclusive o Sol — orbitam.
Apesar de hoje se encontrar em estado de calmaria, especialistas alertam que esse silêncio pode não durar para sempre. Astrônomos já conseguiram estimar quando o gigante adormecido voltará a “acordar” — e o resultado é ao mesmo tempo fascinante e assustador.
De acordo com estudos recentes, em cerca de 2 bilhões de anos, a Grande Nuvem de Magalhães, uma pequena galáxia anã vizinha da Via Láctea, colidirá com nossa galáxia. O impacto provocará um fluxo colossal de gás e poeira em direção ao centro galáctico, alimentando Sagitário A* e transformando-o em um núcleo galáctico ativo — o tipo de estrutura que emite quantidades gigantescas de radiação e pode ser vista a bilhões de anos-luz de distância.
Quando esse processo começar, o material será sugado para o disco de acreção que circunda o buraco negro, aquecido a temperaturas de milhões de graus e girando a velocidades próximas à da luz. O resultado será uma tempestade de energia, com jatos de radiação em múltiplas frequências, alterando completamente o visual e o equilíbrio do centro da Via Láctea.

Um monstro silencioso, mas não inofensivo
Atualmente, Sagitário A* é classificado como “dormente”, consumindo apenas pequenas quantidades de gás e poeira que passam por perto. Mesmo assim, o que se sabe sobre ele já impressiona: seu diâmetro é de cerca de 23,5 milhões de quilômetros, e a gravidade que exerce é tão intensa que nem mesmo a luz consegue escapar de sua borda, o chamado horizonte de eventos.
Para observar o buraco negro, astrônomos recorrem a instrumentos ultrassensíveis, como o Event Horizon Telescope (EHT), responsável pela primeira imagem de Sagitário A* divulgada em 2022 — um anel luminoso e distorcido de luz ao redor de uma sombra, o retrato mais próximo que já tivemos do coração da nossa galáxia.
Quando o gigante despertar
A “reativação” de Sagitário A* não representará uma ameaça direta à Terra — o Sistema Solar está a uma distância segura. No entanto, o evento transformará o centro galáctico em uma fornalha de energia, emitindo ondas de rádio, raios X e jatos de plasma que poderão ser observados de todo o Universo.
Segundo os astrofísicos, o fenômeno será comparável ao surgimento de um quasar, um dos objetos mais brilhantes conhecidos. “Será como se o coração da Via Láctea passasse de um batimento silencioso a uma explosão cósmica”, descreve um pesquisador ligado ao Observatório Europeu do Sul (ESO).
Mistérios ainda sem resposta
Mesmo após décadas de observações, a origem exata dos buracos negros supermassivos ainda intriga os cientistas. Não há estrelas grandes o suficiente para colapsar e formar estruturas tão colossais. As principais teorias indicam que eles surgem da fusão de buracos negros menores ou do acúmulo gradual de gás e poeira ao longo de bilhões de anos.
O que se sabe é que Sagitário A* moldou o destino da Via Láctea desde sua formação — e voltará a fazê-lo quando a colisão com a Grande Nuvem de Magalhães finalmente ocorrer.




