Luiz Inácio Lula da Silva perdeu o dedo mindinho da mão esquerda em 1964, aos 18 anos, enquanto trabalhava como torneiro mecânico em uma metalúrgica no bairro Vila Carioca, em São Paulo. O jovem operário tentava consertar uma prensa quebrada quando sofreu o acidente.
“Eu era um peão. Cheguei ao hospital com o macacão fedendo a graxa às 3h da manhã. O médico olhou pra minha cara e disse: ‘Pra que esse peãozinho quer esse dedo? Vou logo tirar’. E tirou”, relatou Lula anos depois.
Indenização e continuidade no trabalho
Na época, Lula recebeu uma indenização de 350 mil cruzeiros pelo acidente. Mesmo com a amputação, ele não foi aposentado por invalidez e continuou trabalhando em outras indústrias metalúrgicas.
A aposentadoria por invalidez, segundo a legislação, só é concedida em casos de incapacidade permanente para o trabalho e sem possibilidade de reabilitação profissional — o que não se aplicava à condição do então jovem metalúrgico.
Durante o período da ditadura militar, Lula teve seus direitos sindicais cassados, o que o impediu de continuar na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP). Em 20 de abril de 1993, o então Ministro do Trabalho reconheceu essa cassação como perseguição política e o declarou anistiado político. Com isso, Lula pôde solicitar aposentadoria com base na Lei da Anistia.
Aposentadoria retroativa
O pedido foi aprovado pelo INSS com data retroativa a 5 de outubro de 1988, quando Lula tinha 43 anos. O benefício passou a ser pago oficialmente quando ele completou 48 anos.
Uma investigação do Ministério Público Federal, anos depois, concluiu que a concessão da aposentadoria está em conformidade com a Constituição Federal de 1988.
Em 2017, durante o processo do tríplex do Guarujá, o então juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de até R$ 13,7 milhões de Lula. A defesa, no entanto, entrou com recurso e anexou documentos que comprovavam que parte dos valores bloqueados vinham de sua aposentadoria especial.
Segundo os registros, Lula recebe cerca de R$ 8.900,00 por mês, valor referente à aposentadoria como anistiado político, o que é protegido por lei contra bloqueios judiciais.
Fake news desmentidas
Com a eleição de Lula em 2022 para seu terceiro mandato como presidente da República, aumentaram as buscas sobre sua história de vida, especialmente sobre a perda do dedo. Circulou nas redes sociais, mais de uma vez, a falsa alegação de que ele teria cortado o dedo de propósito para não trabalhar — o que foi desmentido por veículos de checagem e por registros históricos.
O acidente foi real, a indenização foi paga e, décadas depois, sua aposentadoria foi reconhecida por lei. A trajetória de Lula é marcada não apenas por desafios políticos, mas também por uma origem operária que o acompanhou até o mais alto cargo do país.