Uma nova modalidade de fraude digital preocupa aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), revelou um esquema milionário que utilizava robôs e tecnologias de resposta automatizada para aplicar descontos indevidos diretamente na folha de pagamento dos beneficiários.
De acordo com as investigações, o golpe funcionava com o uso de Unidades de Resposta Audível Digital (URA) e robocalls — ferramentas tecnológicas capazes de interagir automaticamente com os usuários por meio de comandos de voz ou teclado, simulando adesões a entidades associativas sem o consentimento real dos aposentados.
Como funcionava o golpe
O esquema combinava dois elementos principais:
- URA Digital: tecnologia comum em atendimentos automatizados de call centers, capaz de reconhecer palavras-chave ou comandos numéricos do teclado. No caso da fraude, ela era programada para simular a aceitação do beneficiário a um serviço, registrando essa suposta autorização no sistema do INSS.
- Robocalls: sistemas que realizam chamadas em massa com mensagens gravadas. Essas ligações direcionavam automaticamente o aposentado para a URA, que “captava” o consentimento fraudulento.
Esse modelo de automação permitia que descontos mensais fossem ativados diretamente nos benefícios dos segurados, como se houvesse autorização legítima para filiação a clubes de serviço, associações ou convênios.
Mensagens obtidas pela CNN mostram que operadores admitiam o uso da tecnologia. Em uma conversa via WhatsApp, um aposentado é informado:
“Senhor, pelo que eu verifiquei no sistema, o pacote oferecido de benefícios ao senhor foi realizado através de uma URA digital. A URA digital seria uma discadora que disca vários números aleatórios oferecendo os nossos benefícios”, afirmou a atendente.
Segundo dados da CGU, os descontos desse tipo saltaram de R$ 1,3 bilhão em 2023 para R$ 2,8 bilhões em 2024, representando um aumento de 119% em apenas um ano. Para efeito de comparação, em 2022, o valor foi de R$ 706 milhões.
Ou seja, em dois anos, os valores mais que quadruplicaram — sem que a maioria dos afetados tivesse sequer conhecimento de que estava sendo descontada.